Entre
paciência e fama quero as duas,
pra
envelhecer vergada de motivos.
Imito
o andar das velhas de cadeiras duras
e
se me surpreendem, explico cheia de verdade:
tô
ensaiando. Ninguém acredita
e
eu ganho uma hora de juventude.
Quis
fazer uma saia longa pra ficar em casa,
a
menina disse: “Ora, isso é pras mulheres de São Paulo”.
Fico
entre montanhas,
entre
guarda e vã,
entre
branco e branco,
lentes
pra proteger de reverberações.
Explicação
é para o corpo do morto,
de
sua alma eu sei.
Estátua
na Igreja e Praça
quero
extremada as duas.
Por
isso é que eu prevarico e me apanham chorando,
vendo
televisão,
ou
tirando sorte com quem vou casar.
Porque
que tudo que invento já foi dito
nos
dois livros que eu li:
as
escrituras de Deus,
as
escrituras de João.
Tudo
é Bíblias. Tudo é Grande Sertão.
Adélia Prado, em Bagagem
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