segunda-feira, 28 de outubro de 2024

[Para Whit Burnett]



25 de agosto de 1954

Lamento saber, por meio de uma papeleta que me foi enviada de Smithtown dois meses atrás, que a Story deixou de existir.
Mandei outro conto por essa época chamado “A história do estuprador”, mas não tive retorno. Está por aí?
Sempre vou me lembrar da velha revista laranja com a tira branca. De alguma forma, eu sempre tivera a ideia de que podia escrever qualquer coisa que quisesse, e, se fosse algo bom o bastante, entraria. Nunca tive essa ideia olhando para nenhuma outra revista, e sobretudo hoje, quando todo mundo sente esse medo tão desgraçado de ofender ou dizer qualquer coisa contra qualquer pessoa – um escritor honesto fica num apuro infernal. Quero dizer, você se senta para escrever e sabe que não adianta nada. Tem um monte de coragem que sumiu agora, e um monte de fibra e um monte de clareza – e um monte de Talento Artístico também.
Sempre vou me lembrar da velha revista laranja com a tira branca. De alguma forma, eu sempre tivera a ideia de que podia escrever qualquer coisa que quisesse, e, se fosse algo bom o bastante, entraria. Nunca tive essa ideia olhando para nenhuma outra revista, e sobretudo hoje, quando todo mundo sente esse medo tão desgraçado de ofender ou dizer qualquer coisa contra qualquer pessoa – um escritor honesto fica num apuro infernal. Quero dizer, você se senta para escrever e sabe que não adianta nada. Tem um monte de coragem que sumiu agora, e um monte de fibra e um monte de clareza – e um monte de Talento Artístico também.
E contos: não há nada: nenhuma vida. […]
A Story tinha um significado para mim. E acho que ver seu desaparecimento faz parte da rotina do mundo, e me pergunto: em seguida vai ser o quê?
Eu me lembro de quando costumava escrever e lhe mandar quinze ou vinte ou mais histórias por mês, e depois três ou quatro ou cinco – e principalmente, no mínimo, uma por semana. De Nova Orleans e Frisco e Miami e L.A. e Philly e St. Louis e Atlanta e Greenwich Village e Houston e tudo que é lugar.
Eu costumava me sentar junto a uma janela aberta em Nova Orleans e olhar lá embaixo as ruas noturnas do verão e tocar aquelas teclas, e, quando vendi minha máquina de escrever em Frisco para ficar bêbado, não consegui parar de escrever, e tampouco consegui parar de beber, então imprimi à mão a minha merda por anos, e posteriormente decorei a mesma merda com desenhos para fazer você prestar atenção.
Bem, segundo me dizem, não posso beber agora, e arranjei outra máquina de escrever. Arranjei uma espécie de emprego agora, mas não sei por quanto tempo vou aguentar nele. Estou fraco e fico doente fácil, e me sinto nervoso o tempo todo e acho que tenho alguns curtos-circuitos em algum lugar, mas desse jeito eu sinto vontade de tocar as teclas de novo, tocá-las e fazer frases, um palco, um arranjo, fazer gente andar e falar e fechar portas. E agora não tem mais a Story.
Mas quero lhe agradecer, Burnett, por me tolerar. Sei que uma grande parte era fraca. Mas aqueles eram tempos bons, os tempos de 438 Fourth Ave. 16, e agora, como todas as outras coisas, os cigarros e o vinho e os pardais vesgos na meia-lua, tudo se foi. Uma tristeza mais pesada que piche. Adeus, adeus.

Charles Bukowski, em Escrever para não enlouquecer

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