6
Certa
noite eu vinha pelo corredor, depois de escapulir até o refeitório
para comprar um maço de cigarros. E lá estava um rosto que eu
conhecia.
Era
Tom Moto! O cara com quem tinha estagiado nos tempos do Stone!
— Moto,
seu filho da puta! — eu disse.
— Hank!
— ele disse.
Trocamos
um aperto de mãos.
— Ei,
estava pensando em você! Jonstone está se aposentando este mês.
Alguns de nós vão dar uma festa de despedida para ele. Você sabe,
ele sempre gostou de pescar. Vamos levá-lo para um passeio num barco
a remo. Talvez você queira vir junto para jogá-lo da borda, dar-lhe
um caldo. Arranjamos um lago bem fundo.
— Não,
caralho, não quero nem olhar para ele.
— Mas
você está convidado.
Moto
ria um riso estranho, que ia do cu às sobrancelhas. Então olhei
para sua camisa: uma insígnia de supervisor.
— Ah,
não, Tom.
— Hank,
tenho quatro filhos. Precisam de mim para o pão com manteiga.
— Tudo
bem, Tom — eu disse.
Depois
disso, me afastei.
7
Não
sei como as pessoas resolvem essas coisas. Eu tinha que pagar uma
pensão, precisava de grana para beber, para o aluguel, comprar
sapatos, camisas, meias, todas essas coisas. Como todo mundo,
precisava de um carro velho, de algo para comer, todos os pequenos
gastos em coisas supérfluas.
Como
mulheres.
Ou
um dia no hipódromo.
Com
todas essas coisas enfileiradas e nenhuma rota de fuga, você nem
pensa nisso.
Estacionei
o carro do outro lado da rua da Central e fiquei esperando o sinal
mudar. Atravessei. Empurrei a porta giratória. Era como se eu fosse
um pedaço de ferro atraído por um ímã. Não havia nada que eu
pudesse fazer.
Era
no segundo andar. Abri a porta e eles já estavam lá. Os empregados
do Correio Central. Reparei em uma garota, coitadinha, que tinha
apenas um braço. Ficaria ali para sempre. Era como ser um velho
bebum como eu. Bem, como diziam os rapazes, você tinha que trabalhar
em algum lugar. Então aceitavam o que aparecesse. Essa era a
sabedoria do escravo.
Uma
jovem negra se aproximou. Estava bem-vestida e satisfeita com o mundo
ao seu redor. Eu estava feliz por ela. Eu teria enlouquecido nesse
emprego.
— Pois
não? — perguntou.
— Sou
funcionário dos Correios — eu disse — e quero me demitir.
Ela
se inclinou para baixo do balcão e voltou a aparecer com um maço de
papéis.
— Todos
esses?
Ela
sorriu:
— Está
seguro de como preenchê-los?
— Não
se preocupe — eu disse —, sei o que fazer.
Charles Bukowski, em Cartas na Rua
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