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E
era assim o longo vale do Salinas. Sua história era como a do resto
do estado. Primeiro houve os índios, uma raça inferior sem energia,
criatividade ou cultura, um povo que vivia de larvas, gafanhotos e
moluscos, preguiçoso demais para caçar ou pescar. Comiam o que
estava à mão e nada plantavam. Moíam bolotas de carvalho para
fazer sua farinha amarga. Até suas guerras não passavam de uma
pantomima cansada.
Depois
os espanhóis duros e secos chegaram para explorar, cobiçosos e
realistas, e sua cobiça era de ouro ou de Deus. Colecionavam almas
como colecionavam joias. Conquistaram montanhas e vales, rios e
horizontes inteiros, como um homem nos dias de hoje conquistaria a
concessão de terrenos para construir prédios. Estes homens valentes
e ásperos moviam-se inquietamente pela costa, de cima a baixo.
Alguns deles permaneciam, com feudos vastos como principados, doados
a eles pelos reis de Espanha que não tinham a menor ideia da dádiva.
Estes primeiros proprietários viviam em pobres povoamentos feudais e
seu gado pastava livremente e se multiplicava. Periodicamente, os
proprietários matavam seu gado pelo couro e sebo e deixavam a carne
para os abutres e coiotes.
Quando
os espanhóis chegaram tiveram de dar a tudo o que viam um nome. Este
é o primeiro dever de qualquer explorador — um dever e um
privilégio. Você precisa nomear uma coisa antes de anotá-la no seu
mapa desenhado à mão. Naturalmente, eles eram religiosos, e os
homens que sabiam ler e escrever, que faziam as anotações e
desenhavam os mapas, eram os incansáveis padres que viajavam com os
soldados. Assim os primeiros nomes dos lugares eram nomes de santos
ou de festas religiosas celebradas nos pontos de parada. Existem
muitos santos, mas eles não são inexauríveis e por isso
encontramos repetições nos primeiros locais batizados. Temos San
Miguel, St. Michael, San Ardo, San Bernardo, San Benito, San Lorenzo,
San Carlos, San Francisquito. E também os feriados — Natividad,
o Natal; Nacimiento, o Nascimento; Soledad, a Solidão.
Mas os lugares também eram nomeados em função do estado de
espírito da expedição na ocasião: Buena Esperanza, boa
esperança; Buena Vista, porque a vista era agradável; e
Chualar, porque era bonita. Os nomes descritivos vieram
depois: Paso de los Robles, por causa dos carvalhos; Los
Laureles, por causa dos loureiros; Tularcitos, por causa
dos juncos do pântano; e Salinas, porque o álcali era branco
como o sal.
Depois
os locais receberam os nomes dos animais e dos pássaros avistados —
Gabilanes, por causa dos gaviões que voavam naquelas
montanhas; Topo, por causa da toupeira; Los Gatos, por
causa dos gatos selvagens. As sugestões às vezes vinham da natureza
do próprio local: Tassajara, uma xícara e pires; Laguna
Seca, um lago seco; Corral de Tierra, por causa de um
cercado de terra; Paraiso, porque era como o Céu.
E
então vieram os americanos — mais cobiçosos porque eram em maior
número. Tomaram as terras, refizeram as leis para garantir seus
títulos de posse. E fazendas se espalharam pela terra, primeiro nos
vales e depois subindo pelas encostas, pequenas casas de madeira com
telhados de aparas de sequoia, currais de pau a pique. Onde quer que
um filete de água escorresse do chão, uma casa se erguia e uma
família começava a crescer e se multiplicar. Mudas de gerânios
vermelhos e roseiras eram plantadas nos jardins. Estradas de carroças
substituíam as trilhas e campos de milho, cevada e trigo expulsaram
a mostarda amarela. A cada quinze quilômetros ao longo das estradas,
um armazém de secos e molhados e uma ferraria brotavam e tornaram-se
o núcleo de pequenos povoados, Bradley, King City, Greenfield.
Os
americanos tinham uma tendência maior para dar nomes de pessoas aos
locais do que os espanhóis. Depois que os vales foram habitados, os
nomes dos lugares se referem mais a coisas que aconteceram ali, e
estes para mim são os mais fascinantes de todos os nomes porque cada
nome sugere uma história que foi esquecida. Penso em Bolsa Nueva,
uma bolsa nova; Morocojo, um mouro manco (quem era ele e como
chegou ali?); Wild Horse Canyon, Mustang Grade e Shirt
Tail Canyon. Os nomes dos lugares levam a marca das pessoas que
os batizaram, reverentes ou irreverentes, descritivos, poéticos ou
depreciativos. Você pode chamar qualquer lugar de San Lorenzo, mas
nomear desfiladeiros como fralda de camisa ou mouro manco é algo bem
diferente.
O
vento assobiava sobre os povoados à tarde e os fazendeiros começaram
a erguer quebra-ventos de eucaliptos para impedir que a terra arada
fosse soprada para longe. E assim era o vale do Salinas quando meu
avô trouxe sua mulher e instalou-se nos contrafortes a leste de King
City.
John Steinbeck, em A leste do Éden
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