quarta-feira, 3 de julho de 2024

Insônia

Foi no tempo do terror, a ditadura. Eu não conseguia dormir. O medo era grande. Amigos já tinham sido mortos. Levantei-me, fui até a janela do prédio e olhei. A cidade dormia. O silêncio era quebrado apenas pelos apitos dos guardas noturnos, informando os ladrões da sua aproximação. Olhei para o céu estrelado. Pensei que ele tinha estado lá por bilhões de anos e continuaria a estar lá daqui a bilhões de anos. Lembrei-me do que um prisioneiro deixou escrito na cela de um campo de concentração nazista: “Daqui a cem anos tudo isso terá passado”. Com essas palavras na cabeça, voltei a dormir.

Rubem Alves, em Ostra feliz não faz pérola

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