Do
pop adolescente de “Óculos” à pioneira fusão de rock, reggae,
ritmos nordestinos e africanos de “Alagados”, os Paralamas do
Sucesso sinalizavam alta versatilidade e muito bom gosto desde a sua
entrada em cena. Herbert Vianna ampliou e aprofundou essas
características ao mergulhar fundo no mundo das baladas, fazendo em
10 minutos, enquanto andava de moto com a namorada, a bela e
melancólica “Lanterna dos afogados”, inspirada em um bar citado
no romance Jubiabá, de Jorge Amado.
“Uma
noite longa / Pra uma vida curta / Mas já não me importa / Basta
poder te ajudar / Eu tô na lanterna dos afogados / Eu tô te
esperando / Vê se não vai demorar.”
A
música foi lançada no álbum Big bang (1989), quinto dos
Paralamas, mas o segundo que faziam reforçado nos palcos por um
tecladista e um naipe de sopros. A instrumentação aumentada também
foi levada aos estúdios, estimulando o guitarrista, cantor e
principal compositor do grupo a navegar por melodias e harmonizações
mais ousadas, além do então restrito universo do pop brasileiro.
Arnaldo
Antunes, no texto de apresentação do disco, apontou-a como a
canção-síntese de Big bang, ressaltando a proposta de
dubiedade do verso “Eu tô na lanterna dos afogados”, que viu
como uma “fossa paradoxal”, aliviada pela visão de uma “luz no
túnel dos desesperados”, com algo “entre a fossa e troça”.
Consagrada
pela crítica, “Lanterna dos afogados” também bateu no gosto do
grande público e foi o principal sucesso do disco e uma das mais
executadas do ano nas rádios brasileiras. Cinco anos depois, ganhou
outra vigorosa interpretação, na voz rascante de Cássia Eller. E
continuou no repertório de cantoras consagradas como Daniela
Mercury, Gal Costa, Maria Gadú e Claudia Leitte, e até do grupo emo
Fresno, que gravou uma versão emocionada, em 2010.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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