domingo, 3 de dezembro de 2023

Lanterna dos afogados | Herbert Vianna, 1989


Do pop adolescente de “Óculos” à pioneira fusão de rock, reggae, ritmos nordestinos e africanos de “Alagados”, os Paralamas do Sucesso sinalizavam alta versatilidade e muito bom gosto desde a sua entrada em cena. Herbert Vianna ampliou e aprofundou essas características ao mergulhar fundo no mundo das baladas, fazendo em 10 minutos, enquanto andava de moto com a namorada, a bela e melancólica “Lanterna dos afogados”, inspirada em um bar citado no romance Jubiabá, de Jorge Amado.
Uma noite longa / Pra uma vida curta / Mas já não me importa / Basta poder te ajudar / Eu tô na lanterna dos afogados / Eu tô te esperando / Vê se não vai demorar.”
A música foi lançada no álbum Big bang (1989), quinto dos Paralamas, mas o segundo que faziam reforçado nos palcos por um tecladista e um naipe de sopros. A instrumentação aumentada também foi levada aos estúdios, estimulando o guitarrista, cantor e principal compositor do grupo a navegar por melodias e harmonizações mais ousadas, além do então restrito universo do pop brasileiro.
Arnaldo Antunes, no texto de apresentação do disco, apontou-a como a canção-síntese de Big bang, ressaltando a proposta de dubiedade do verso “Eu tô na lanterna dos afogados”, que viu como uma “fossa paradoxal”, aliviada pela visão de uma “luz no túnel dos desesperados”, com algo “entre a fossa e troça”.
Consagrada pela crítica, “Lanterna dos afogados” também bateu no gosto do grande público e foi o principal sucesso do disco e uma das mais executadas do ano nas rádios brasileiras. Cinco anos depois, ganhou outra vigorosa interpretação, na voz rascante de Cássia Eller. E continuou no repertório de cantoras consagradas como Daniela Mercury, Gal Costa, Maria Gadú e Claudia Leitte, e até do grupo emo Fresno, que gravou uma versão emocionada, em 2010.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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