PROFESSOR
Oi, pessoal, eu sou o novo professor de vocês. Hoje a gente vai
fazer um pouco de cross fit consciente. Vamos começar driblando
aqueles cones como se a vida de alguém dependesse disso, como se a
gente precisasse correr, e não estivesse correndo só pra preencher
o vazio de alguma coisa que a gente não sabe o que é. Imaginem que
vocês estão de fato melhorando o mundo em alguma coisa e não estão
correndo só pra endurecer a bunda.
Ele
pega pesos e distribui entre os alunos.
PROFESSOR
Vamos carregar este peso aqui como se fosse um saco de comida e vocês
estivessem levando ele pra alguém que está passando fome. Como se
fosse cimento e vocês estivessem colaborando pra fazer a casa de
alguém que mora na rua. Gente, essa pessoa tá com pneumonia e
precisa de um teto. Quero mais ritmo. A casa tem que ficar pronta
antes que volte a chover senão você perde todo o trabalho que você
fez durante o dia. Esquece que é só vaidade. Esquece que você só
está querendo parecer um pouco mais jovem, ou um pouco mais magro,
postar uma foto no Instagram. Finge que é altruísmo. Finge que isso
vai fazer bem pra alguém. Finge que o mundo precisa que você faça
isso. Boa. Salvou um miserável. Quer dizer, não salvou ninguém.
Mas poderia ter salvado. Se de fato se preocupasse com outra pessoa
que não você.
Ele
vai até as barras.
PROFESSOR
Agora vamos esquecer por um momento que a gente vai morrer e que não
faz nenhum sentido levantar essa barra. Vamos esquecer que essa
energia que a gente está perdendo aqui não está gerando nada pra
ninguém a não ser pra gente mesmo. Vamos esquecer que a gente
poderia estar passando esse tempo com nossos pais, com nossos avós
ou com pessoas que podem morrer a qualquer momento enquanto a gente
está aqui. Boa, Jorge.
PROFESSOR
Vamos agachar igual a empregada está abaixando em casa pra limpar o
chão que a gente não tem tempo pra limpar porque tá malhando,
simulando que a gente está limpando o chão e fazendo menos
exercício do que se a gente estivesse de fato limpando alguma coisa.
Vamos levantar esse peso como a babá levanta o filho que a gente não
tem muito tempo pra ver porque a gente tá aqui simulando o gesto de
levantar uma barra que tem exatamente o peso do nosso filho. Isso.
Agora vamos pra casa, deitar na cama e dizer que a gente teve um dia
cheio e precisa dar uma descansada.
Gregório Duvivier, in Put some farofa
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