O
mundo está calado e chove
De
repente, de um só golpe, acabam-se os gritos e os tambores. Homens e
deuses foram derrotados. Mortos os deuses, morreu o tempo. Mortos os
homens, a cidade morreu. Morreu em sua lei esta cidade de guerra, a
dos salgueiros brancos e brancos juncos. Já não virão para
render-lhe tributo, em barcas através da névoa, os príncipes
vencidos de todas as comarcas.
Reina
um silêncio que atordoa. E chove. O céu relampagueia e troa e
durante toda a noite chove.
Se
empilha o ouro em grandes cestas. Ouro dos escudos e das insígnias
de guerra, ouro das máscaras dos deuses, penduricalhos de lábios e
orelhas. Pesa-se o ouro e cotizam-se os prisioneiros. De um pobre
é o preço, apenas, dois punhados de milho... Os soldados armam
rodas de dados e baralhos.
O
fogo vai queimando as plantas dos pés do imperador Cuauhtémoc,
untadas de azeite, enquanto o mundo está calado e chove.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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