Começara
a pré-produção.
Tudo
parecia estar indo bem.
Aí
o telefone tocou. Era Jon.
– Temos
problema.
– Qual?
– Friedman
e Fischman...
– Sim?
– Querem
se livrar de meus coprodutores, Tim Ruddy e Lance Edwards...
– Conheci
o Ruddy, o Edwards, não... Que há?
– Esses
caras trabalham comigo há muito tempo neste filme. Puseram tempo e
dinheiro. Agora Friedman e Fischman querem chutar os dois. Estou
sendo pressionado de todos os lados. Todo mundo aceitou ganhar menos.
E a Firepower se meteu em encrenca da grossa. O sindicato está
investigando eles. A ação tinha chegado a 40, agora caiu pra
4...“Se livre desses caras”, eles me dizem. “Não precisamos
deles!” “Mas”, respondo, “eu preciso deles...” “Por que
precisa deles?”, perguntam. “Não somos tão bons quanto eles?”
“Mas eles estão no contrato”, digo a eles. “Vocês assinaram o
contrato.” “Sabe o que é um contrato?” me perguntam. “Um
contrato é uma coisa a ser renegociada!”
– Nossa...
– Esses
caras estão apertando e pressionando, apertando e pressionando... E
vão apertar e pressionar até não terem mais nada pra apertar e
pressionar... Eu já concordei em rodar o filme em 32 dias, em vez de
34... O orçamento já foi reduzido várias vezes... Eles não gostam
do meu técnico de som... Não gostam do meu câmera... Querem outros
mais baratos. “E você tem de se livrar desses produtores”, me
dizem. “Nós não precisamos deles...”
– Que
é que você vai fazer?
– Bem,
eu não posso abandonar Tim e Lance... Nós temos um plano. Amanhã,
Tim e eu vamos almoçar com um advogado. Esse cara é conhecido em
toda Hollywood. Só o nome dele já enche todo mundo de medo. É
poder de fato, total. E deve um favor a Tim. Assim, depois do almoço,
vamos passar no escritório de Friedman e Fischman, levando o tal
advogado com a gente. Agora, seria bom se você também estivesse lá.
Você pode?
– Claro...
A que horas e onde?
O
almoço foi no Musso’s. Pegamos uma mesa grande, de canto. Bebemos
e almoçamos. Várias pessoas pararam para dar uma palavrinha com o
grande advogado. Era verdade, todos morriam de medo dele. O grande
advogado era muito delicado e usava um terno bastante caro.
O
advogado, Lance e Jon planejaram sua estratégia em relação a
Friedman e Fischman. Não prestei muita atenção. O advogado expôs
a coisa: você diz isso, eu digo aquilo. Você não diz isso. Deixa
comigo.
Advogados,
médicos, bombeiros mecânicos, eles é que ficavam com a grana toda.
Escritores? Os escritores morriam de fome. Os escritores se
suicidavam. Os escritores enlouqueciam.
O
almoço acabou e fomos para nossos respectivos carros e nos dirigimos
para o grande edifício verde onde Friedman e Fischman estavam à
espera. Acertamos nos encontrar na entrada.
A
secretária escoltou-nos até o gabinete de Harry Friedman, e quando
entramos ele se levantou e já foi dizendo:
– Sinto
muito, mas a empresa não tem dinheiro e nada se pode fazer. Esses
outros produtores têm de ir embora. Não podemos pagar a eles. Não
temos dinheiro!
Pegamos
cadeiras na sala e nos sentamos.
Jon
disse:
– Sr.
Friedman, eu preciso desses homens, eles são essenciais pra
produção.
Friedman
permaneceu de pé. Apoiou os nós dos dedos no tampo da mesa.
– NINGUÉM
É NECESSÁRIO! MENOS AINDA ESSES HOMENS. PRA QUE PRECISAMOS DELES?
ME DIGA: PRA QUE PRECISAMOS DELES?
– São
meus coprodutores, Sr. Friedman...
– EU
SOU UM PRODUTOR! EU SOU MELHOR QUE ELES! NÃO PRECISO DESSES HOMENS!
ESSES HOMENS SÃO SANGUESSUGAS! SANGUESSUGAS!
Abriu-se
uma porta atrás de Friedman e apareceu Fischman. Não era tão gordo
quanto o outro. Deu uma corridinha em torno da mesa de Friedman.
Deslocava-se bem. Enquanto corria em torno da mesa, berrava:
– SANGUESSUGAS!
SANGUESSUGAS!
Depois
voltou correndo pela porta por onde entrara, e que evidentemente
levava ao seu gabinete.
Friedman
sentou-se atrás de sua mesa. Era evidente que sabia quem era o
grande advogado.
Sentou-se
atrás de sua mesa e disse em voz baixa:
– Não
precisamos de ninguém.
O
grande advogado pigarreou, e falou:
– Por
favor, me desculpe, mas existe... um contrato.
Friedman
saltou de pé atrás de sua mesa:
– VOCÊ
CALE A BOCA, SEU ESPERTINHO!
– Entro
em contato com você – disse o grande advogado.
– É.
ENTRE EM CONTATO. VÁ EM FRENTE, ENTRE EM CONTATO, SEU ESPERTINHO!
VOCÊ PRA MIM NÃO É NADA!
Nós
nos levantamos e nos juntamos perto da porta. Sussurraram-se algumas
palavras, e então Tim e o grande advogado saíram. Jon disse que
precisava conversar mais um pouco com Friedman. Eu fiquei.
Nós
nos sentamos.
– Não
posso pagar esses caras – disse Friedman.
Jon
curvou-se para a frente, gesticulou com a mão.
– Mas,
Harry, você não pode simplesmente pedir a eles que trabalhem pra
você... de graça!
– EU
ADORO quando as pessoas trabalham DE GRAÇA! ADORO!
– Mas...
isso não é direito... esses homens trabalham há meses! Você têm
que pagar alguma coisa!
– Tudo
bem, dou a eles 15 mil...
– Só
30 mil, por todos esses meses de trabalho?
– Não,
os 15 são para os dois...
– Mas
isso é impossível...
– Nada
é impossível... – Olhou para mim: – Quem é esse cara?
– É
o escritor.
– É
um cara velho. Não vai viver muito tempo. Corto 10 mil dele...
– Não,
ele é pago através de mim...
– Então
eu corto 10 mil de você e você corta 10 mil dele.
– Harry,
pare com isso, por favor...
Friedman
levantou-se de sua mesa e encaminhou-se para um sofá de couro
encostado na parede. Jogou-se estendido no sofá. Olhava para o teto.
Permaneceu calado. Então me pareceu ouvir um leve soluço. Os olhos
de Harry Friedman se umedeciam.
– Não
temos dinheiro. Não temos dinheiro. Eu não sei o que fazer. Me
ajude, me ajude.
Ficou
calado por uns bons dois minutos. Jon acendeu um cigarro e esperou.
Então
Friedman falou, ainda olhando para o teto.
– Isso
podia ser chamado de um filme de arte, não podia?
– Bem,
sim – disse Jon.
Harry
Friedman saltou de seu sofá, correu para Jon:
– UM
FILME DE ARTE! UM FILME DE ARTE! ENTÃO VOCÊ TRABALHARÁ DE GRAÇA!
Jon
levantou-se.
– Sr.
Friedman, preciso ir...
Encaminhamo-nos
para a porta.
– Jon
– disse Friedman –, aqueles sanguessugas têm de ir embora.
– Sanguessugas
– ouvimo-lo dizer novamente, através da porta.
Dirigimo-nos
para o bulevar.
Charles Bukowski, in Hollywood
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