sexta-feira, 21 de julho de 2023

1511 - Rio Guauravo | Agüeynaba

Há três anos, o capitão Ponce de León chegou a esta ilha de Porto Rico em uma caravela. O chefe Agüeynaba abriu-lhe sua casa, ofereceu-lhe de comer e de beber, deu-lhe para escolher entre suas filhas e mostrou-lhe os rios de onde tiravam ouro. Outro presente foi seu nome. Juan Ponce de León passou a chamar-se Agüeynaba e Agüeynaba recebeu, em troca, o nome do conquistador.
Há três dias, o soldado Salcedo chegou, sozinho, na beira do rio Guarauvo. Os índios ofereceram-lhe os ombros para passá-lo. Ao chegar na metade do rio, deixaram-no cair e o esmagaram contra o fundo até que deixou de agitar as pernas. Depois, estenderam-no na erva.
Salcedo é agora uma bolota de carne avermelhada e crispada. Rapidamente apodrece ao sol, apertado pela armadura e acossado pelos bichos. Os índios olham para ele, tapando o nariz. Dia e noite pediram-lhe perdão, por via das dúvidas. Já não vale a pena. Os tambores transmitem a boa nova: Os invasores não são imortais.
Amanhã, estalará a sublevação. Agüeynaba a encabeçará. O chefe dos rebeldes tornará a chamar-se como antes. Recuperará seu nome, que foi usado para humilhar a sua gente.
Co-quí, co-quí – chamam as rãs. Os tambores, que convocam para a luta, impedem que se escute seu cantado contraponto de cristais.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

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