Apresentando-se
como um “misto de maracatu”, este “samba de preto velho”
promoveu uma revolução pacífica e festiva na canção brasileira.
Lançado em 1963, inicialmente num 78 rpm com “Por causa de você,
menina” no lado B, logo este samba diferente virou um sucesso em
todo o Brasil, apesar de tachado de primitivo e infantil por boa
parte da crítica. Com seu balanço original e seu vigoroso violão
percussivo de sotaque afro, não dedilhado como na bossa nova, mas
tocado com palheta como entre rockers e bluesmen, Jorge
Ben Jor (na época ainda Jorge Ben) abriu novos caminhos para a
música popular, num momento em que a bossa nova já dava sinais de
esgotamento no Brasil. Uma volta às raízes que apontava para o
futuro.
Ainda
em 1963, “Mas que nada” também foi a faixa escolhida para abrir
o álbum de estreia do cantor, Samba esquema novo, produzido
por Armando Pittigliani e acompanhado pelo grupo de samba-jazz Os
Copa 5, liderado pelo saxofonista e arranjador J.T. Meirelles.
Hoje
considerado um clássico da MPB, o álbum também inclui sucessos
como “Chove, chuva”, “Rosa, menina rosa”, “Vem, morena,
vem” e “Balança pema”. Mas foi “Mas que nada” que melhor
sintetizou o esquema novo de Jorge Ben Jor, com o apelo irresistível
de sua levada e de sua letra rítmica e sonora, e começou a rodar o
mundo. Com a espetacular versão de Sérgio Mendes & Brasil 66,
tornou-se um big hit nos Estados Unidos e uma das músicas
brasileiras mais regravadas no mundo. Da diva do jazz Ella Fitzgerald
ao grupo de hip-hop Black Eyed Peas em 2006.
O
tijucano Jorge Ben Jor (Jorge Duílio Lima Menezes, 1942), de remota
origem etíope, cresceu ouvindo samba e também rock and roll, que
seriam amalgamados em seu estilo. No início da carreira, tanto se
apresentava no Beco das Garrafas, em Copacabana, reduto da bossa nova
e do samba-jazz, quanto em bailes de rock nos subúrbios do Rio.
Criticado pela MPB, a partir de 1965 teve lugar cativo no palco da
Jovem Guarda, ao lado de Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléa, e, em
seguida, foi abraçado pela Tropicália, que viu nele um instintivo
pioneiro que realizava na prática a síntese musical que eles
propunham e tentavam fazer na teoria.
Apesar
de se dizer “misto de maracatu”, o gênero criado por Jorge se
popularizou, mais apropriadamente, como samba-rock.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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