sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Mas que nada | Jorge Ben Jor, 1963


Apresentando-se como um “misto de maracatu”, este “samba de preto velho” promoveu uma revolução pacífica e festiva na canção brasileira. Lançado em 1963, inicialmente num 78 rpm com “Por causa de você, menina” no lado B, logo este samba diferente virou um sucesso em todo o Brasil, apesar de tachado de primitivo e infantil por boa parte da crítica. Com seu balanço original e seu vigoroso violão percussivo de sotaque afro, não dedilhado como na bossa nova, mas tocado com palheta como entre rockers e bluesmen, Jorge Ben Jor (na época ainda Jorge Ben) abriu novos caminhos para a música popular, num momento em que a bossa nova já dava sinais de esgotamento no Brasil. Uma volta às raízes que apontava para o futuro.
Ainda em 1963, “Mas que nada” também foi a faixa escolhida para abrir o álbum de estreia do cantor, Samba esquema novo, produzido por Armando Pittigliani e acompanhado pelo grupo de samba-jazz Os Copa 5, liderado pelo saxofonista e arranjador J.T. Meirelles.
Hoje considerado um clássico da MPB, o álbum também inclui sucessos como “Chove, chuva”, “Rosa, menina rosa”, “Vem, morena, vem” e “Balança pema”. Mas foi “Mas que nada” que melhor sintetizou o esquema novo de Jorge Ben Jor, com o apelo irresistível de sua levada e de sua letra rítmica e sonora, e começou a rodar o mundo. Com a espetacular versão de Sérgio Mendes & Brasil 66, tornou-se um big hit nos Estados Unidos e uma das músicas brasileiras mais regravadas no mundo. Da diva do jazz Ella Fitzgerald ao grupo de hip-hop Black Eyed Peas em 2006.
O tijucano Jorge Ben Jor (Jorge Duílio Lima Menezes, 1942), de remota origem etíope, cresceu ouvindo samba e também rock and roll, que seriam amalgamados em seu estilo. No início da carreira, tanto se apresentava no Beco das Garrafas, em Copacabana, reduto da bossa nova e do samba-jazz, quanto em bailes de rock nos subúrbios do Rio. Criticado pela MPB, a partir de 1965 teve lugar cativo no palco da Jovem Guarda, ao lado de Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléa, e, em seguida, foi abraçado pela Tropicália, que viu nele um instintivo pioneiro que realizava na prática a síntese musical que eles propunham e tentavam fazer na teoria.
Apesar de se dizer “misto de maracatu”, o gênero criado por Jorge se popularizou, mais apropriadamente, como samba-rock.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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