Sucesso
popular em 1959, na gravação de inconfundível gingado do paraibano
Jackson do Pandeiro, grande mestre do suingue e das divisões
rítmicas, “Chiclete com banana” voltou às paradas em 1972, na
voz de Gilberto Gil, como um dos destaques do influente álbum
Expresso 2222. Desde então, tem sido uma referência obrigatória na
afirmação da cultura musical brasileira, comentando com humor a
concorrência que o samba passou a enfrentar com os ritmos de fora.
Do bebop, um dos estilos do jazz em voga nos anos 1950 (citado na
abertura da letra, “Eu só ponho bebop no meu samba / Quando Tio
Sam tocar um tamborim”), ao rock, que começava a se espalhar pelo
mundo.
Mesmo
criticando a excessiva influência de ritmos estrangeiros no Brasil,
a canção era uma espécie de samba-bop e também anunciava um novo
híbrido, que, anos depois, seria realidade com Jorge Benjor: “Olha
aí, o samba-rock, meu irmão.” Na letra engenhosa e no ritmo
sincopado se fundem gêneros que, apesar de espalhados pelo
continente americano, têm as mesmas raízes africanas: jazz (bebop,
boogie-woogie), rumba, samba, coco.
Apesar
de ter sido creditada ao baiano Gordurinha (Waldeck Artur Macedo,
1922-1969) e à pernambucana Almira Castilho (1924-2011), Jackson
também participou de sua criação. Em alguns discos, seu nome de
batismo, José Silva Gomes Filho (1919-1982), constou como parceiro.
Diz Almira, companheira de Jackson no palco e na vida entre 1956 e
1967, que na época do lançamento de “Chiclete com banana” eles
não podiam dividir composições por serem filiados a associações
de autores diferentes – ele estava na UBC (União Brasileira de
Compositores); ela, na SBACEM (Sociedade Brasileira de Autores,
Compositores e Escritores de Música). O samba foi escrito a seis
mãos. Gordurinha apresentou a ideia à dupla, já com alguns versos
e um esboço da melodia, Jackson e Almira completaram a canção,
mexendo no arranjo e acrescentando alguns cacos e expressões
regionais. É dele o scat jazzístico que funciona como introdução
e dá charme especial e mais sentido à sátira proposta na música.
A
regravação de Gil, em 1972, também foi importante para impulsionar
a volta de Jackson do Pandeiro aos palcos. Por mais uma década, o
Rei do Ritmo pôde viajar pelo Brasil com sua mistura de samba,
baião, xote, xaxado, coco, arrasta-pé, quadrilha, marcha, frevo e o
suingue irresistível que marcava seu estilo. Morreu aos 62 anos, em
1982, após passar mal durante um show em Brasília, mas sua
influência cresceu entre as novas gerações. Uma das bandas de axé
de maior sucesso adotou Chiclete com Banana como nome e, em 1999,
Lenine usou trechos do clássico para homenagear o mestre na música
“Jack Soul Brasileiro”.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário