sexta-feira, 16 de setembro de 2022

A Copa e a Cópula

Bar da Maria, tarde I d.C. (depois da Copa). Ligeira depressão, aliviada pelas cervejinhas. Feito esses lenços que mágico vagabundo tira da cartola, uma historinha de casamento em crise puxava outra. Baiano resumiu o clima:
A dimensão da crise num casamento pode ser medida pela resposta que seu Ernesto deu pra cara-metade.
Môa suspirou:
De novo ?
Entende-se a falta de saco do Môa. É a pentelhésima vez que o Baiano conta esse troço, uma espécie de carro-chefe dele. Mas vale a pena ver de novo. A mulher do seu Ernesto fez uma sopa e perguntou ao marido, sujeito extremamente malhumorado, se ele queria um pouco. Recebeu como resposta um resmungo de assentimento. Na ânsia de agradar a pobrezinha fez a pergunta fatal: “Quer no prato?”.
Seu Ernesto virou a boca de bazuca na direção da infeliz e não perdoou:
Não. Quero no prato não. Joga no chão e vem varrendo.
Rimos pra não perder o amigo. Mas a história teve um efeito colateral. O Cascudo, um rapaz mineiro que só tomava genebra e jamais abria a boca pra falar de si mesmo, fitou o pôster do Vasco e desfiou o seu drama, de mansinho:
Minha senhora vivia reclamando que a vida andava sem graça. Chorava pelos canto. Tinha uma dor de cabeça braba. Eu não sabia o que fazer. Ela descascava as batata gemeno de dar dó. Me olhava com os óio cheio de lágrima e dizia que nossa vidinha no dia-a-dia estava isfriando a paxão, arruinando o romantismo dos tempo de namoro. Quando o Brasil perdeu pra Argentina resolvi virar a mesa. Tomei uma canjibrina extra aqui na Maria, e fui pra casa antis da hora bitual. Miti a chave na fechadura e girei bem divagá.
Entrei em casa na pontinha dos pé. Ela tava no quarto, sentada na cama só com a parte de cima do beibidor, mexendo na caixa de custura. Aquele misto de trem doméstico e nudez buliu comigo, atiçou meus brio. Olhei os cabelo dela começano a ficar grisáio, as coxa mais grossa por causa de um aumentim de peso, os óculo meia-taça inquilibrado na ponta do nariz... Fiquei doidim. Ela sentiu minha presença, se assustou, começou a se levantar, mas eu dei um impurrão nos peito dela, joguei ela na cama, rasguei de cima baixo a brusa de um puxão só e pulei em cima dela que nem um gato. Ela gritou com uma voz que eu não cunhecia, uma coisa forte, doida. Tentou falar arguma coisa, mas eu tapei a boca dela anssim ó cum u travissêro e mandei ferro. Me senti um deus grego. Quanto mais ela tentava se sortá, mais eu abafava a cara dela gritano:
É isso que tu queria? Tá gostano? É por causa da minha vara macha que tu tá rebolano des’jeito, é?
E refresquei um pouco a pressão no travesseiro pra ouvir a resposta dela. Uma voz de gelo me disse:
Tô rebolano des’jeito porque tem alfinete demais da conta ispetado na minha bunda, só!

Aldir Blanc, in Brasil passado a sujo

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