quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Adeus, batucada | Synval Silva, 1935

 


Samba que é automaticamente associado a Carmen Miranda (1909-1955), “Adeus, batucada” foi feito sob medida para ela por Synval Silva, em 1935. Gravado em setembro daquele ano, com acompanhamento da Orchestra Odeon, a encomenda emplacou de cara e virou o prefixo musical dos programas de rádio da cantora. Também garantiu de vez a entrada de Synval na vida da Pequena Notável, como compositor e seu motorista particular. É um samba melancólico, mesmo que “valorizando a batucada”, afinal, “sambando se goza / nesse mundo”, no qual a personagem lamenta a hora de largar a folia. O que explica o fato de a bela e engenhosa letra ter permitido muitas associações com a vida de sua primeira intérprete.
Quatro anos após seu lançamento, “Adeus, batucada” seria a música escolhida por Carmen para encerrar seu programa de despedida na Rádio Mayrink Veiga, antes de embarcar para os Estados Unidos e a carreira em Hollywood. E, em 5 de agosto de 1955, estaria entre as tocadas no adeus derradeiro, durante o cortejo fúnebre que parou o Rio de Janeiro. Clássico incontestável da música brasileira, desde então “Adeus, batucada” se mantém viva, com novas gravações de Ney Matogrosso, Ná Ozzetti, Gal Costa, Eduardo Dussek, Marisa Monte, Alaíde Costa e Celso Fonseca.
Mineiro de Juiz de Fora, filho de um clarinetista, Synval Machado da Silva (1911-1994) aprendeu viola e clarinete ainda criança. Na adolescência, começou a compor seus primeiros sambas e valsas. Chegou ao Rio em 1930, para morar no Morro da Formiga, na Tijuca, e se sustentar como mecânico de automóveis. Mas, sem largar a música, após sujar a mão de graxa e óleo durante o dia, prosseguia trabalhando à noite como integrante do regional Good-Bye, na Rádio Mayrink Veiga. Foi lá que, em 1934, conheceu o baiano Assis Valente, então o compositor preferido de Carmen. Naquele mesmo ano, graças à indicação do amigo, a cantora gravou na RCA Victor dois sambas de Synval, “Alvorada” e “Ao voltar do samba”, e, em 1935, um terceiro, “Coração”.
A carreira de Synval não se limitou aos discos de Carmen. Um dos fundadores da escola de samba Império da Tijuca, ele ainda foi gravado por outros grandes cantores da época, como Aurora Miranda, Orlando Silva, Trio de Ouro, Cyro Monteiro e Ataulfo Alves.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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