Quando eu sofria dos nervos
não passava debaixo de fio elétrico,
tinha medo de chuva, de relâmpio,
nojo de certos bichos que eu não falo
pra não ter que lavar minha boca com
cinza.
Qualquer casca de fruta eu apanhava.
Hoje que sarei tenho uma vida e tanto:
já seguro nos fios com a chave desligada
e lembrei de arrumar pra mim esta capa de
plástico,
dia e noite eu não tiro, até durmo com
ela.
Caso chova, tenho trabalho nenhum.
Casca, mesmo sendo de banana ou de manga,
eu não intervo, quem quiser que se
cuide.
Abastam as placas de ATENÇÃO! que eu
escrevo
e ponho perto. Um bispo, quando tem zelo
apostólico, é uma coisa charmosa.
Não canso de explicar isso pro pastor
da minha diocese, mas ele não entende
e fica falando, ‘minha filha, minha
filha’,
ele pensa que é Woman´s Lib,
pensa
que a fé tá lá em cima e cá em baixo
é mau gosto só. É ruim, é ruim
ninguém entende. Gritava até parar,
quando eu sofria dos nervos.
Adélia Prado
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