A noiva lhe explicou, com muito jeito,
que ele tinha certas maneiras de falar que sua mãe (dela) estranhava
um pouco. Que ele compreendesse e não ficasse zangado: muito
religiosa, muito retraída, a “velha” estranhava certas
expressões que não têm nada de mais, mas que ela não estava
acostumada a ouvir.
O rapaz encabulou: teria, sem querer,
dito algum palavrão? A moça disse que nem pensasse nisso, eram
apenas maneiras de dizer as coisas. Por exemplo, ele dissera, a certa
altura do jantar: “Não sou muito amante do abacate não.” Ela, a
moça, achava isso natural, mas a mãe, coitada, ficava meio chocada
com essa palavra amante. Ele poderia dizer, por exemplo, amigo.
No jantar seguinte, na casa da futura
sogra, respondendo a uma pergunta desta, sobre se gostava de doce de
abóbora, disse: “Não, senhora, eu não sou muito amigo de
amantes, não.”
Um dia a futura sogra perguntou que fita
estava passando no Metro. Lembrou-se do título: “Numa ilha com
você”. E respondeu: — Numa ilha... com a senhora.
Rubem Braga, in Recado de primavera
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