sábado, 8 de maio de 2021

Talvez hoje

Estranha matéria, que sobe do fundo
à flor da memória camada de espuma
diário de bordo vem quebrar aqui

sobre nosso peito com seu arsenal
de velhas paisagens e gente sem rosto;
se quase podemos tocá-la, não sabemos,

no entanto, em que praça, em que tempo
se dão o abraço o beijo que, talhados
no passado, emergem na água de agora

à maneira de cristais, mas que são vidros
difusos e são doces, matam a sede
e nos matam. Insepultos, ressurgimos.

Eucanaã Ferraz

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