Que tal a Liza Minnelli, em Cabaret?
Legal. Mas legal paca é a Twiggy no trailer do Namoradinho!
Assim se exprimem hoje as admirações,
em linguagem criativa. Recuo mais de meio século, e ouço dizerem de
Mabel Normand:
— É o suco!
Qualificativo que, para definir o bom do
bom, correu longamente o Brasil e chegou a merecer citação em
discurso de Rui Barbosa. O próprio Rui era o suco, em matéria de
eloquência e galhardia cívica, assim como Bromil era o suco em se
tratando de combater a tosse.
Em tempos mais remotos, batizava-se deste
modo o objeto da melhor qualidade:
— É x.p.t.o. London.
London, com sílaba final abrasileirada.
A princípio, segundo Castro Lopes, era marca de cobertor inglês, de
muita cotação; depois, ficou sendo tudo que se recomendasse pelo
acabamento esmerado. Pessoas mais respeitosas do vernáculo recorriam
ao trivial da língua:
— Superior.
Este superior, dito com entonação
valorativa. Como o desvalorizado “ótimo”, em que o “ó”
concentrava a ênfase do elogio, antes de ser batido
irremediavelmente por estes dois poderosíssimos adjetivos:
— Bacana!
— Bacanérrimo!
Podemos extrair a certidão de idade de
um desconhecido, se o virmos levar o polegar e o indicador da mão
direita (salvo se for canhoto) ao lóbulo da orelha e exclamar:
— É da pontinha.
Trata-se de um sujeito de cinquenta
cajus, seguramente. Aos vinte aprendeu a relacionar a excelência de
uma coisa ao pormenor auricular. Versão sintética:
— Daqui, ó.
Bom à beça teve seus dias de consumo
farto. Ainda circula por aí, meio fantasmal. Espécie mais rara, que
só de longe adquire vida sonora:
— Cutuba!
E seu primo exagerado, o cutubaço. E seu
colateral, o batuta.
Podemos comparar a notas recolhidas de
cinco mil-réis os louvores concretizados em “admirável”,
“magnífico”, “excelente”, “estupendo”. Não valem mais
nada. Que significa “soberbo” ou “sublime”? “Extraordinário”
é menos que ordinário. “Esplêndido”, coitado.
Devia mexer com as fibras da elogiada o
hino contido nesta expressão, que também a fait son temps:
— É do balacobaco!
Gerações passadas, ao se extasiarem,
valiam-se de “formidável”, “fenomenal”, “notável”,
“notabilíssimo”, “o que há de bom”, “delícia”,
“delicioso”, “de primeira ordem”. Para meu avô, o vinho de
respeito era “supimpa”, e um erudito, seu comensal, acrescentava:
— Nec plus ultra.
“Divino” parece que enfraqueceu, pois
foi necessário tonificá-lo com “divino maravilhoso”. E tem
“infernal” como competidor.
“É um sonho?” “É um sarro?”
Antes era “um estouro”. Já foi “piramidal”. Se agora é
“fora de série”, naqueles tempos era “incomparável” ou
“inigualável”, “sem rival”. “O máximo”, “o maior”
deram seus recados. “Espetacular” ainda resiste. “Genial”, de
uso imoderado, prova que a genialidade é atributo de todos os
brasileiros.
Conceda-se menção a “fantástico”,
a “sensacional” e a “sensas”. Não sei se posso lembrar
“lindo”, tão impróprio depois da entronização do feio como
estilo de vida. “Bárbaro” já diz melhor o que a gente acha e
não diz.
Certas coisas eram “o fino”, outras
“uma gostosura”, “uma graça”, finalmente “uma coisa”.
Apesar de tudo que há de negativo no
mundo atual, as excelências nos rodeiam e até nos perseguem. Se a
vida é cara, não falta o “barato”, o “tremendo barato”, o
“joia”, para compensar, pela contínua criação ou recriação
verbal, o que não é nada disto. Viva a palavra! Ela não define
apenas o objeto ou a sensação. Ela transforma, ela cria, ela
inventa e colore a vida:
— Chuchu beleza!
Carlos Drummond de Andrade, in De notícias e não notícias faz-se a crônica
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