Incerta vez,
o Mano Juca se poentou no rio.
Em nenhum rio se morre,
assim é o dito.
Por que razão chora, então, a mãe?
Que eternidade a amarra
à bruma da margem?
A mulher responde:
há vozes no meu quarto
que me pedem mais do que posso sonhar.
De tanto na berma sobejar
ela ganhou o redondo dos seixos.
Aves a pisam
e nela debicam como em derramada nuvem.
Tristezas de mãe
estão sempre certas:
o lugar da casa é o de um rio.
Casa e rio, ela diz:
são margens de um regresso infinito.
Aos poucos, a borda do rio
já não é senão água.
E a lembrança da mãe
é a de nenhum tempo haver.
Rio sorvido pela própria corrente
o filho deságua sem fim
no mar dos olhos de quem o fez nascer.
Mia Couto
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