quinta-feira, 10 de setembro de 2020

O Primeiro Beijo

Meu primeiro beijo deve ter sido como é o de qualquer um: cheio de expectativas, com alguém que também estava a fim e certamente horrível (o beijo, não a pessoa). Lembro de pensar durante o beijo: “qual é a graça de ficar batendo meus dentes nos dentes da outra pessoa?”. Naquela hora não fazia sentido nenhum alguém gostar de beijar na boca. Porém existe uma relação estranha entre meu primeiro beijo e vários outros que eu dei na vida: uma festa.
Acho que pelo fato do meu primeiro emprego ter sido aos 15 anos como iluminador (e depois DJ) em uma casa noturna, meus encontros por muito tempo aconteceram ao som de Vinny, Aqua, Corona, Kelly Key e até Morena Tropicana do Alceu Valença. Ultimamente tem sido mais ao som de Lady Gaga, Strokes e vez ou outra um Los Hermanos, ou seja, não melhorou tanto.
Nessa época me lembro de estar com meu amigo Alberto numa festa e uma mulher mais velha ir falar para ele que queria ficar comigo. Achei aquilo interessante, afinal de contas as garotas do meu colégio nunca tinham se interessado por mim e uma mulher com o dobro (ou mais) da minha idade tinha. Isso é excitante e ao mesmo tempo triste. Nos encontramos num canto escuro, trocamos algumas palavras e ela veio me beijar. Como eu não sabia fazer isso, o beijo não tinha pressão, vazava ar, as bocas não criavam aquele vácuo do beijo. Aí vieram os dentes batendo um no outro e eu achando essa coisa de beijo a coisa mais inútil do mundo depois do mamilo masculino (pra quê serve o mamilo masculino além de marcar na roupa em dias frios?).
Lembro claramente dela me perguntar:
É a primeira vez que você beija?
Claro que não!
Então você tem problemas.
Esse foi o pior beijo que eu já dei na vida!
Nem eu, nem ela e nem ninguém poderia prever quantos problemas eu teria em relação a isso dali pra frente! Acho que, no mínimo, uns 50.
Rodrigo Fernandes, in Tinha tudo pra dar certo se não fosse eu!

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