O
avião sacudiu e o homem pegou a mão da mulher sentada ao seu lado.
— Desculpe
— disse o homem. — É que eu...
— O
senhor tem medo de voar, é isto?
— É.
Na verdade, medo não. Pavor.
O
homem continuava apertando a mão da mulher. Ela disse:
— Acalme-se.
Foi só uma sacudida.
O
avião deu outra sacudida. O homem gemeu e pediu:
— Você
pode me abraçar?
A
mulher relutou, mas concordou. Envolveu o homem nos seus braços.
— Obrigado
— disse o homem. — Era o que a mamãe fazia, quando eu era garoto
e nós viajávamos de avião.
— Pronto,
pronto — disse a mulher. — Está tudo bem.
Outra
sacudida.
— Eu
posso agarrar o seu seio? — pediu o homem.
— Meu
seio?!
— Para
me lembrar da mamãe. Vai me dar mais segurança.
— Pode
— disse a mulher, abrindo a blusa para o homem segurar seu seio.
Nisso
ouviu-se a voz da aeromoça avisando que era para apertarem os cintos
de segurança porque o avião estava entrando numa zona de
turbulência.
— Ai,
meu Deus — disse o homem. E para a mulher: — Comece a tirar a
roupa!
Luís
Fernando Veríssimo,
in Os
últimos quartetos de Beethoven
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