quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

25/09/91 - 00:28

Maldita noite quente, os gatos estão num estado deplorável, no meio de todo aquele pelo, olham para mim e não posso fazer nada. Linda saiu para algum lugar. Ela precisa de coisas para fazer, de pessoas para conversar. Tudo bem pra mim, mas ela tende a beber e precisa voltar dirigindo. Não sou boa companhia, não gosto de conversar. Não quero trocar ideias – ou almas. Sou apenas um bloco de pedra para mim mesmo. Quero ficar dentro do bloco, sem ser perturbado. Foi assim desde o começo. Resisti a meus pais, resisti à escola e depois resisti a tornar-me um cidadão decente. O que quer que eu fosse, fui desde o começo. Não queria que ninguém mexesse com isso. E ainda não quero.
Acho que as pessoas que têm cadernos e anotam seus pensamentos são umas cretinas. Só estou fazendo isso porque alguém sugeriu que eu o fizesse. Como você vê, não sou nem mesmo um cretino original. Mas isso, de alguma forma, faz com que seja mais fácil. Só deixo rolar. Como uma bosta quente ladeira abaixo.
Não sei o que fazer com o hipódromo. Acho que está perdendo a graça pra mim. Estava hoje no Hollywood Park, apostas entre hipódromos, 13 páreos do Fairplex Park. Depois do 7 o páreo, estou ganhando US$ 72. E daí? Isso vai tirar alguns destes cabelos brancos das minhas sobrancelhas? Vai me transformar em um cantor de ópera? O que eu quero? Estou apostando num jogo difícil, estou apostando uma chance de 18 por cento. Faço muito isso. Assim, não deve ser muito difícil. O que eu quero? Realmente não me importo se existe um Deus ou não. Não me interessa. Então, que diabos é 18 por cento?
Olho e vejo o mesmo cara falando. Fica no mesmo lugar todos os dias falando com essa ou aquela pessoa ou pessoas. Segura o Programa dos Páreos e fala sobre os cavalos. Que saco! O que estou fazendo aqui?
Vou embora. Caminho até o estacionamento, pego meu carro e saio. São só quatro da tarde. Outros saem junto. Somos lesmas caminhando sobre uma folha.
Então, chego na entrada da garagem, estaciono e saio. Tem um recado da Linda grudado no telefone. Abro a caixa do correio. Uma conta de gás. E um grande envelope cheio de poemas. Todos impressos em folhas separadas de papel. Mulheres falando sobre suas menstruações, sobre suas tetas e peitos e sobre serem comidas. Completamente chato. Jogo no lixo.
Então, dou uma cagada. Me sinto melhor. Tiro a roupa e entro na piscina. Água gelada. Mas ótima. Caminho até a parte funda da piscina, a água subindo centímetro por centímetro, me gelando. Daí, mergulho debaixo da água. É repousante. O mundo não sabe onde estou. Subo, nado até a outra ponta, encontro o degrau, me sento. Deve estar no 9 o ou no 10 o páreo. Os cavalos ainda estão correndo. Mergulho de novo na água, consciente da minha estúpida brancura, da minha idade grudada em mim como uma sanguessuga. Mesmo assim, tudo bem. Eu deveria ter morrido há 40 anos. Subo à superfície, nado até o outro lado, saio.
Isto foi há muito tempo. Estou aqui em cima agora com o Macintosh IIsi. E isto é tudo por hoje. Acho que vou dormir. Descansar para ir ao hipódromo amanhã.
Charles Bukowski, in O Capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio

Nenhum comentário:

Postar um comentário