Maldita
noite quente, os gatos estão num estado deplorável, no meio de todo
aquele pelo, olham para mim e não posso fazer nada. Linda saiu para
algum lugar. Ela precisa de coisas para fazer, de pessoas para
conversar. Tudo bem pra mim, mas ela tende a beber e precisa voltar
dirigindo. Não sou boa companhia, não gosto de conversar. Não
quero trocar ideias – ou almas. Sou apenas um bloco de pedra para
mim mesmo. Quero ficar dentro do bloco, sem ser perturbado. Foi assim
desde o começo. Resisti a meus pais, resisti à escola e depois
resisti a tornar-me um cidadão decente. O que quer que eu fosse, fui
desde o começo. Não queria que ninguém mexesse com isso. E ainda
não quero.
Acho
que as pessoas que têm cadernos e anotam seus pensamentos são umas
cretinas. Só estou fazendo isso porque alguém sugeriu que eu o
fizesse. Como você vê, não sou nem mesmo um cretino original. Mas
isso, de alguma forma, faz com que seja mais fácil. Só deixo rolar.
Como uma bosta quente ladeira abaixo.
Não
sei o que fazer com o hipódromo. Acho que está perdendo a graça
pra mim. Estava hoje no Hollywood Park, apostas entre hipódromos, 13
páreos do Fairplex Park. Depois do 7 o páreo, estou ganhando US$
72. E daí? Isso vai tirar alguns destes cabelos brancos das minhas
sobrancelhas? Vai me transformar em um cantor de ópera? O que eu
quero? Estou apostando num jogo difícil, estou apostando uma chance
de 18 por cento. Faço muito isso. Assim, não deve ser muito
difícil. O que eu quero? Realmente não me importo se existe um Deus
ou não. Não me interessa. Então, que diabos é 18 por cento?
Olho
e vejo o mesmo cara falando. Fica no mesmo lugar todos os dias
falando com essa ou aquela pessoa ou pessoas. Segura o Programa dos
Páreos e fala sobre os cavalos. Que saco! O que estou fazendo aqui?
Vou
embora. Caminho até o estacionamento, pego meu carro e saio. São só
quatro da tarde. Outros saem junto. Somos lesmas caminhando sobre uma
folha.
Então,
chego na entrada da garagem, estaciono e saio. Tem um recado da Linda
grudado no telefone. Abro a caixa do correio. Uma conta de gás. E um
grande envelope cheio de poemas. Todos impressos em folhas separadas
de papel. Mulheres falando sobre suas menstruações, sobre suas
tetas e peitos e sobre serem comidas. Completamente chato. Jogo no
lixo.
Então,
dou uma cagada. Me sinto melhor. Tiro a roupa e entro na piscina.
Água gelada. Mas ótima. Caminho até a parte funda da piscina, a
água subindo centímetro por centímetro, me gelando. Daí, mergulho
debaixo da água. É repousante. O mundo não sabe onde estou. Subo,
nado até a outra ponta, encontro o degrau, me sento. Deve estar no 9
o ou no 10 o páreo. Os cavalos ainda estão correndo. Mergulho de
novo na água, consciente da minha estúpida brancura, da minha idade
grudada em mim como uma sanguessuga. Mesmo assim, tudo bem. Eu
deveria ter morrido há 40 anos. Subo à superfície, nado até o
outro lado, saio.
Isto
foi há muito tempo. Estou aqui em cima agora com o Macintosh IIsi. E
isto é tudo por hoje. Acho que vou dormir. Descansar para ir ao
hipódromo amanhã.
Charles
Bukowski, in O
Capitão saiu
para o almoço
e os marinheiros
tomaram conta do navio
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