Diz-se roço no Nordeste valendo
ostentação vaidosa, alarde destemoroso, exibição de força
dispensável. É a saliência que fica nas pedras de calçamento e
são reajustadas pelo atrito, dando-lhes a unidade niveladora. Assim,
tirar o roço é fazer terminar a empáfia orgulhosa, a
presunção agressiva.
A trunfa era realmente um sinal visível
da arrogância vulgar, mecha que descia, como um cacho pendente da
cabeleira ou novelo emaranhado, erguido no alto da cabeça do
famanaz, como um permanente desafio. Gustavo Barroso informou da
quase universalidade do uso entre os profissionais da coragem,
hindus, hunos, egípcios, árabes, amerabas norte-americanos, os
nazarenos judeus etc. (O sertão e o mundo, Rio de Janeiro,
1923). A maioria desses exemplos referia-se a um cacho ou trança
fina, como a cadenette, do lado esquerdo, usual no Exército
francês sob Luís XIII e Luís XIV. Mesmo durante a Revolução os
monarquistas ostentavam em Paris essas tresses de cheveux como
distintivo político.
Os cangaceiros do velho tempo
consideravam a trunfa como um apanágio de alto valor pessoal, sujas,
empoeiradas mas úmidas de perfumes baratos, saqueados nas vilas. A
moda estendeu-se às cidades e vilas do interior para os valentões
de beco, travessa e feira. A repressão policial incluiu como
processo inicial punitivo aliviar-lhes os topetes e trunfas,
elementos legítimos naquela heráldica do crime. Os falsos heróis,
de cabeça rapada, tinham realmente perdido os valiosos atributos da
fama popular. Baixou a trunfa, perdeu a trunfa,
dizia-se, aludindo às extintas glórias.
Perdeu o roço ou baixou a
trunfa são coisas que o povo diz.
Luís da Câmara Cascudo, in
Coisas que o povo diz
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