O
negrinho Filó era um artista no pente. Naquele velho pente envolto
em papel de seda, tirava tudo, de ouvido, desde a Canção do Soldado
até La donna è a mobile. A gente ficava escutando, com orgulho e
inveja. Pois nenhum de nós conseguia tocar pente. Dava-nos cócegas
e, como dizia a Gabriela, “a gente se agachava a sirri que não
parava mais”. Quando ele morreu, foi logo declarando a sua
qualidade, para S. Pedro: “Musgo!”. E S. Pedro lhe deu uma
gaitinha de boca. Uma linda gaitinha de boca! E até hoje ele vive
explicando que não há nada como o pente... Mas o Céu é tão
perfeito que na sua Filarmônica não existem instrumentos de
emergência: um pente, lá, é um pente mesmo.
Mário
Quintana, in Sapato florido
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