Debaixo
do mar viaja o canto das baleias, que cantam se chamando.
Pelos
ares viaja o assovio do caminhante, que busca teto e mulher para
fazer a noite.
E
pelo mundo e pelos anos, viaja a avó.
A
avó viaja perguntando:
–
Quanto falta?
Ela
se deixa levar do telhado da casa e navega sobre a Terra. Sua barca
viaja para a infância e para o nascimento e para antes:
–
Quanto falta para chegar?
A
avó Raquel está cega, mas enquanto viaja vê os tempos idos, vê os
campos perdidos: lá onde as galinhas põem ovos de avestruz, os
tomates são como abóboras e não há trevos que não tenham quatro
folhas.
Cravada
em sua cadeira, muito penteada e muito limpinha e engomadinha, a avó
viaja sua viagem pelo avesso e convida nós todos:
– Não
tenham medo – diz. – Eu não tenho medo.
E
a leve barca desliza pela Terra e pelo tempo.
– Falta
muito? – pergunta a avó, enquanto vai.
Eduardo
Galeano, in Mulheres
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