quinta-feira, 12 de abril de 2018

Escute!

Psiu! Você ouviu esse barulho, Cabaco?”
Foi durante o turno da meia-noite: uma lua bonita; os marujos em pé, num cordão que se estendia de uma das pipas de água fresca no poço até a pipa da escotilha, próxima à grinalda. Desse modo, passavam os baldes para encher a pipa da escotilha. De pé, em sua maior parte, nos limites sagrados do convés, tomavam cuidado para não falar e nem arrastar os pés. Os baldes eram transportados de mão em mão no mais profundo silêncio, quebrado apenas por uma fortuita agitação da vela ou pelo zumbido contínuo da quilha que incessantemente avançava.
Foi em meio a essa tranquilidade que Archy, um dos que estava no cordão, cujo lugar era perto da escotilha da popa, sussurrou para o seu vizinho, um Cholo, aquelas palavras.
Psiu! Você escutou esse barulho, Cabaco?”
Pegue o balde, Archy. Que barulho?”
De novo – aí embaixo da escotilha –, não está ouvindo? – uma tosse – parece uma tosse.”
Dane-se a tosse! Passe logo o balde vazio.”
De novo – ouviu? –. Parecem duas ou três pessoas se virando enquanto dormem!”
Caramba! Pare com isso, companheiro, certo? São os três biscoitos encharcados que você comeu no jantar que estão se revirando dentro de você – nada mais. Preste atenção no balde!”
Diga o que quiser, companheiro; eu tenho bom ouvido.”
É isso mesmo, não foi você que escutou aquelas senhoras Quacres fazendo tricô a cinqüenta milhas de Nantucket? Foi, não foi?”
Pode rir à vontade; veremos o que vai acontecer. Escute aqui, Cabaco, tem alguém aí embaixo no porão que ainda não apareceu no convés; e suspeito que nosso velho Grão-Mogol está sabendo. Escutei Stubb dizer a Flask, numa ronda de manhã, que tinha alguma coisa assim no ar.”
Ei! O balde!”
Herman Melville, in Moby Dick

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