A
coisa mais impressionante que existe são os olhos dos cavalos de
carrossel, olhos que parecem estar gritando “avante!” —
enquanto eles, nos altibaixos do galope, jamais podem sair do mesmo
círculo.
Deviam
ser assim, igualmente estranhos, os olhos dos primeiros poetas que
apareceram entre os homens porque olhavam através deles e para além
deles. Já ouvi dizer que as tribos primitivas vazavam os olhos dos
poetas... Também deviam ser assim os olhos dos Profetas porque a sua
luz não era deste mundo. E aos homens assustava-os a beleza e a
verdade.
Ah,
meus pobres cavalinhos de pau que acabo de encontrar parados no
parque deserto... será que fiz um comício? Não há de ser nada...
Em todo caso, do modo como falei, dir-se-ia que a beleza e a verdade
são as duas faces da mesma moeda. Nada disso: elas são a mesma
moeda. Tanto assim que, quando o sábio joga cara ou coroa, encontra
a beleza e, quando o poeta joga cara ou coroa, encontra a verdade.
Mário
Quintana, in A vaca e o hipogrifo
Nenhum comentário:
Postar um comentário