Nós
não somos capazes da verdade,
os
antinaturais por natureza.
Sofremos
e procuramos.
Daí
os eremitérios, as siglas,
diversos
estatutos e estandartes.
Acontece,
de pura misericórdia, um descanso:
uma
borboleta amarela pousa na nossa mão e,
pra
nosso susto, permanece sem medo;
olhamos
o céu e dizemos do nosso terreiro:
é
pra lá que se vai, depois de tudo.
De
puro orgulho eu queria ser pobre,
de
visceral preguiça, pedra.
Contudo
explico, desentendo, procuro incansavelmente
a
ponta da meada de seda,
o
fundo da agulha de prata
que
borda a blusa de Deus
que
está no trono sentado com olhar compassivo e ardente coração.
Eu
quero amor sem fim. Deus dá?
Eu
quero comida quente. Deus dá?
Aprecio
as dificuldades e respectivos auxílios,
me
esperando lá fora a luz do dia,
quando
eu sair da floresta aonde eu fui passear
com
medo da boicininga e da cobra píton
e
não fiz nada demais: só fiquei com o moço na grama,
nossos
rostos muitos próximos,
transida.
Se
tirasse as cobras do conto ia ficar perfeito.
Não
tiro e sei bem por quê.
De
Deus assim não tenho medo e gosto
mas
se Ele disser:
‘vem
pro Carmelo estudar Tomás de Aquino, Luzia rebelde’,
eu
fico trêmula e pretensiosa
de
fazer cada uma mais maravilhante
de
me tirar o tempo para ser feliz.
Do
meu jeito, não.
Pego
o trilho no pasto e vou saudando:
‘Bom
dia, compadre; bom dia, comadre,
seus
patinho tão bons?’
Meus
peitos duros de leite,
as
ancas duras, rapaz.
Benzinho-de-espinho
me pega, carrapicho,
a
tarde doura.
Caçar
ninho de galinha é bom,
é
bom chá de amor-deixado.
Eta-vida-margarida
que eu resolvo por álgebra.
Me
dá um meu sono e eu vou dormir virada pra parede.
Onde
tem um descascado eu ponho os olhos,
tem
um mosquitinho tonto,
um
cheiro de telha
e
Deus resplandecendo em Sua glória.
Adélia
Prado
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