A
turma viu uma perna de formiga, desprezada,
dentro
do mato. Era uma coisa para nós muito
importante.
A perna se mexia ainda. Eu diria que
aquela
perna, desprezada, e que ainda se mexia,
estava
procurando a outra parte do seu corpo,
que
deveria estar por perto. Acho que o resto da
formiga,
naquela altura do sol, já estaria dentro
do
formigueiro sendo velada. Ou talvez o resto
do
corpo estaria a procurar aquela perna
desprezada.
Ninguém viu o que foi que produziu
aquela
desunião do corpo com a perna desprezada.
Algumas
pessoas passavam por ali, naquele trato
de
terra, e ninguém viu a perna desprezada. Todos
saímos
a procurar o pedaço principal da formiga.
Porque
pensando bem o resto da formiga era a
perna
desprezada. Fomos à beira do rio mas só
encontramos
pedaços de folhas verdes carregados
por
novas formigas. Achamos a seguir que as novas
formigas
que carregavam as folhas nos ombros, elas
estavam
indo para assistir, no formigueiro, ao
velório
da outra parte da formiga. Mas a gente
resolveu
por antes tomar um banho de rio.
Manoel
de Barros
Nenhum comentário:
Postar um comentário