Era
um cômodo grande, talvez um armazém antigo,
empilhado
até o meio de seu comprimento e altura
com
sacas de cereais.
Eu
estava lá dentro, era escuro,
estando
as portas fechadas
como
uma ilha de sombra em meio do dia aberto.
De
uma telha quebrada, ou de exígua janela,
vinha
a notícia da luz.
Eu
balançava as pernas,
em
cima da pilha sentada,
vivendo
um cheiro como um rato o vive
no
momento em que estaca.
O
grão dentro das sacas,
as
sacas dentro do cômodo,
o
cômodo dentro do dia
dentro
de mim sobre as pilhas
dentro
da boca fechando-se de fera felicidade.
Meu
sexo, de modo doce,
turgindo-se
em sapiência,
pleno
de si, mas com fome,
em
forte poder contendo-se,
iluminando
sem chama a minha bacia andrógina.
Eu
era muito pequena,
uma
menina-crisálida.
Até
hoje sei quem me pensa
com
pensamento de homem:
a
parte que em mim não pensa e vai da cintura aos pés
reage
em vagas excêntricas,
vagas
de doce quentura
de
um vulcão que fosse ameno,
me
põe inocente e ofertada,
madura
pra olfato e dentes,
em
carne de amor, a fruta.
Adélia
Prado
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