“Abster-se
reciprocamente de ofensas, da violência, da exploração, adaptar a
sua própria vontade à de outro: tal coisa pode, num certo sentido
tosco, tornar-se bom costume entre indivíduos, se existirem
condições para tal (a saber, semelhança efetiva entre as suas
quantidades de força e entre as suas escalas de valores e a
homogeneidade dos mesmos dentro de um só organismo). Logo que,
porém, se quisesse alargar este princípio, concebendo-o até como
princípio
fundamental da sociedade,
revelar-se-ia imediatamente como aquilo que é: vontade de negação
da
vida, princípio de dissolução e de decadência. Aqui é preciso
pensar-se bem profundamente e defender-se de toda a fraqueza
sentimentalista: a própria vida é essencialmente
apropriação,
ofensa, sujeição daquilo que é estranho e mais fraco, opressão,
dureza, imposição de formas próprias, incorporação e pelo menos,
na melhor das hipóteses, exploração, - mas para que empregar
palavras a que, desde há muito, se deu uma intenção difamadora?
Também
aquele organismo dentro do qual conforme acima se admitiu, os
indivíduos se tratam como iguais - e tal se dá em toda a
aristocracia sã -, tem de fazer, no caso de ser um organismo vivo e
não moribundo, ao enfrentar outros organismos, tudo o que os
indivíduos dentro dele se abstêm de fazer entre si: terá de ser a
vontade de poder personificada, quererá crescer, expandir-se, atrair
a si, obter preponderância, - não por qualquer moralidade ou
imoralidade, mas porque vive
e
porque a vida é,
cabalmente,
vontade de poder.”
Friedrich
Nietzsche,
in
Para Além de Bem e Mal
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