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Recebi
um e-mail em inglês que me foi enviado por uma senhora, Lola
Degenszjn, nascida na cidade do Cairo, Egito, mas residindo no Brasil
há muitos anos. Ela se desculpou dizendo que lia português mas não
escrevia bem. Disse-me que gostava das coisas que eu escrevia. Mas
uma única palavra que usei foi uma punhalada na sua alma. A palavra,
bem... Eu escrevia para as minhas netas e descrevia como era a casa
pobre em que vivi, quando menino. Fogão de lenha, luz de lamparina,
sem geladeira (não havia eletricidade), as comidas eram guardadas
num armário de tela chamado guarda-comida. Foi essa palavra banal
que escrevi sem nenhuma emoção que lhe deu a punhalada. “With
this I was stabbed”, ela disse. E como que se lembrando, escreveu o
nome do guarda-comida em francês: “garde manger”... A punhalada
aconteceu porque, ao ler a palavra, ela se viu menina, na sua casa no
Cairo. Lá havia um guarda-comida... Tanto tempo se passara! Ela até
se esquecera de tal objeto. Ao ler a palavra “guarda-comida” no
meu texto ela foi devolvida a uma cena da sua infância: ela, menina,
na cozinha de sua casa... Eu e a Lola, agora, nos tornamos amigos
ligados por essa palavra banal, “guarda-comida”...
Rubem
Alves, in Ostra
feliz não faz pérola
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