Uma
senhorita exemplar serve ao pai e aos irmãos como servirá ao
marido, e não faz nem diz nada sem pedir licença. Se tem dinheiro
ou berço, acode à missa das sete e passa o dia aprendendo a dar
ordens aos serviçais negros, cozinheiras, serventes, babás,
amas-de-leite, lavadeiras, e fazendo trabalhos de agulha ou bilro. Às
vezes recebe amigas, e até se atreve a recomendar algum livro
ousado, sussurrando:
– Se
você soubesse como me fez chorar...
Duas
vezes por semana, à tardinha, passa algumas horas escutando o noivo,
sem olhá-lo e sem permitir que chegue perto, ambos sentados no sofá,
frente ao olhar atento da tia. Todas as noites, antes de se deitar,
reza as ave-marias do rosário e aplica na pele uma infusão de
pétalas de jasmim amassadas em água de chuva à luz da lua cheia.
Se
o noivo a abandona, ela se transforma subitamente em tia e fica
portanto condenada a vestir santos, defuntos e recém-nascidos, a
vigiar noivos, a cuidar de doentes, a dar o catecismo e a suspirar
pelas noites, na solidão da cama, contemplando o retrato de quem a
desdenhou.
Eduardo
Galeano, in
Mulheres
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