domingo, 16 de outubro de 2016

A verdade da ficção

 
São Jorge e o Dragão (1606), de P. P. Rubens 

São Jorge, o cavalo, o dragão... eu sempre fui, já não digo um devoto, mas um fã dos três. São Jorge, eu soube, foi cassado. E verdade que andava metido em tudo o que era religião... Mas que culpa tinha ele de ser bonito e ecumênico? Porém, ao passo que São Jorge era dessantificado, ressuscitava-se o Diabo, retirando-o do domínio do folclore a que o relegara o povo. Mas e o dragão? O dragão não representava o mal, isto é, o Diabo? Alega-se que São Jorge nunca existiu. Ora, naquela imagem que, de tanto a vermos desde a infância, fazia parte da nossa sensibilidade, o dragão era também uma figura simbólica. Porém existe... Naquela bela imagem, pois, resta-nos agora o cavalo e o dragão. Luta desigual. Foi-se o cavaleiro andante do Bem.
E como que nos ficou faltando um estímulo, um exemplo, uma esperança.
O que nos faz lembrar aquele Outro cavaleiro andante, Dom Quixote — outro símbolo. Que nunca existiu, é claro. Mas como vive!
Mário Quintana, in A vaca e o hipogrifo

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