Em
julho de 1947, depois de economizar cinquenta dólares de meu velho
seguro de veterano, eu estava pronto para ir à costa oeste. Meu
amigo Remi Boncoeur havia escrito uma carta de San Francisco, dizendo
que eu deveria ir para embarcar com ele num navio que daria a volta
ao mundo. Ele jurava que conseguiria me arranjar um emprego na casa
de máquinas. Respondi-lhe que já estaria satisfeito com qualquer
velho cargueiro, contanto que pudesse curtir um longo cruzeiro pelo
Pacífico e voltasse com grana suficiente para me sustentar na casa
de minha tia enquanto terminasse meu livro. Ele falou que possuía
uma cabana em Mill City, e que lá eu teria todo o tempo do mundo par
a. escrever, enquanto a gente aguardasse a encheção de saco
burocrática de antes da viagem. Ele estava vivendo com uma garota
chamada Lee Ann; disse que ela era uma cozinheira maravilhosa, e que
tudo iria dar certo. Remi era um velho colega de escola preparatória,
um francês criado em Paris, e era realmente muito louco — nessa
época, eu não imaginava até que ponto! Portanto, ele aguardava
minha chegada para dentro de dez dias. Minha tia estava inteiramente
de acordo com minha viagem para o oeste; ela achava que isso me faria
bem, eu havia trabalhado duro durante o inverno, e ficara demais
dentro de casa; ela não reclamou nem mesmo quando eu lhe disse que
teria que pegar carona. Tudo o que ela esperava era que eu voltasse
inteiro. E assim, certa manhã, deixando meu grosso manuscrito
incompleto sobre a escrivaninha, e dobrando pela última vez meus
confortáveis lençóis caseiros, parti com meu saco de viagem, no
qual poucas coisas fundamentais haviam sido arrumadas, caindo fora em
direção ao oceano Pacífico com cinquenta dólares no bolso.
Jack
Kerouac, in On the Road – Pé na estrada
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