–
Então,
nhá Maria, que aconteceu?
João
de pé, a mão na cadeira. Ela sentada, boquinha pintada em coração.
No joelho, a caçula de cinco anos, olhinho arregalado.
– Eu
tenho um sentimento.
– É
certo o que ele se queixa? A senhora de noite não quer?
– Ele
está fracão, sargento. Quer que eu deixe forte.
– Não
minta, mulher.
– E
a história das duas calças?
– Nem
todo dia a gente está boa. Sabe o que ele fez? Picou todinha com a
tesoura. De ciúme não quer que eu use calça comprida. Olhe a minha
perna, sargento.
Debaixo
do vestidinho o cascão escuro do sol.
– Essa
aí deixa o arroz em cima do fogão. E vai tomar mate com a irmã.
– Não
se pode mais passear? Ele volta da roça, meio bêbado, me toca de
casa. Manda eu ir com outro. Quando esperava esse anjinho...
De
tanto tossir a menina perdia o fôlego.
– ...
me deu um soco na barriga.
– Ah,
é? Conte do baile para o sargento.
– Se
alguém convida, a gente não nega. É festinha de domingo.
– Um
casal de velhos, dona Maria. Com oito filhos. Discutindo por bobagem.
– A
ideia do sargento só tenho a gabar. Na mesma casa, cada um no seu
canto. Desmanchar o ranchinho não quero. Sabe o que disse? Que era
uma vagabunda. Não me respeita?
– Ele
está fracão, sargento. Começa a bater na gente para ficar forte.
Só judiando de mim ele consegue.
–
Passar
a mão não é bater, seu João.
– Agora
eu sei o que é a lei, sargento.
– Em
negócio de boca não me fio. Quero um papel do sargento. Bem capaz,
esse aí, de arruinar o trato.
– Termo
de bem-viver? Não carece, dona Maria.
– Ele
faz muito estropício. Onde cuspo eu não lambo. Esse aí, não. Se
abaixa e come do chão.
– Agora
podem ir. Cuidar dos filhos.
– O
sentimento eu guardo.
–
Sentimento
a gente perdoa, não é, sargento?
E
o pobre ostentou os dois caninos solitários.
Dona
Maria acudiu:
– O
meu está no coração. Eu morro com ele.
Mais
um safanão na menina:
– Dê
louvado para o sargento.
Mão
posta, unhinha preta, tossindo.
– Deus
te abençoe, minha filha.
Dalton
Trevisan,
in A
trombeta do anjo vingador
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