Yukio
Mishima fez esta sessão de fotos em que simula o harakiri que,
posteriormente, executou.
Yukio
Mishima, escritor japonês duas vezes indicado para o Prêmio Nobel
de Literatura, no dia 26 de novembro de 1970 pôs fim à própria
vida cometendo seppuku. O seppuku é um suicídio ritual ligado à
tradição dos guerreiros samurai.
No
seu livro Shogun, James Clavell descreve as regras que o regem. O
guerreiro se veste com vestes sagradas, assenta-se com pernas
cruzadas e, com um punhal, abre vagarosamente o seu ventre de lado a
lado. Nesse momento, ele se curva para a frente e o seu melhor amigo
põe fim à dor com um golpe de espada que separa cabeça do corpo.
Clavell
conta que parte do ritual era o guerreiro escrever um haicai, o seu
último haicai. Um haicai é um minúsculo poema que pinta a epifania
de um instante. Miniatura. Veja esse levíssimo haicai de Bashô: “Essas pimentas; acrescentai-lhes asas e serão libélulas...”. Quem
lê esse haicai alegre nunca mais verá as pimentas na pimenteira da
forma como via. Esperará que elas se transformem em libélulas...
Leminski
se deu conta de que o tamanho de um haicai é enganoso. Haicais são
miniaturas de peso insuportável... De fato, menores não podem ser.
Três versos. No japonês, o primeiro tem cinco sílabas. O segundo
tem sete. E o terceiro tem cinco. Tudo o que é para ser dito tem de
ser dito com dezessete sílabas somente. Poucas sílabas para dizer a
essência de uma vida. Têm de ser palavras essenciais. Aquele que
vai morrer deve escolhê-las depois de profunda meditação.
É
preciso separá-las das 10 mil palavras que nos distraem. Porque
essas poucas palavras serão o que restou, a mínima presença de
peso insuportável daquele que se foi. Camus relata a tragédia de um
moribundo que, na hora de dizer suas últimas palavras, se deu conta
de que as havia esquecido.
Rubem
Alves, in Do universo à jabuticaba
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