quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Atriz

Amo-a Harry. Ela é tudo para mim, na vida. Noite após noite, vou vê-la representar. Uma noite ela é Rosalinda, outra é Imogênia. Vi-a morrer na escuridão de uma tumba italiana, sugando o veneno dos lábios do seu amado. Segui-a quando errava pelos bosques de Arden, disfarçada de belo rapaz de calças, gibão e gracioso gorro. Vi-a louca na presença de um rei perverso, para quem levava ramos de arruda e a quem dava a provar ervas amargas. Era inocente e as negras mão do ciúme comprimiam-lhe a garganta semelhante a um caniço. Vi-a em toda as épocas e em todos os trajes. As mulheres vulgares nunca excitam a nossa imaginação. Estão limitadas ao seu século. Não há magia que possa transfigurá-las. Pode-se conhecer a sua mente como se conhecem os seus chapéus. Podemos encontrá-las sempre. Não há mistério em nenhuma delas. De manhã, passeiam no seu carro pelo parque; de tarde, tagarelam tomando chá. Têm sorrisos estereotipados e as atitudes estudadas. São completamente transparentes. Mas uma atriz, Harry! Por que não me disse que o único ser digno de amor é uma atriz?”
Oscar Wilde, in O retrato de Dorian Gray

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