domingo, 14 de junho de 2015

A casa de Dê

Provavelmente o nome era Djanira, mas todos conheciam-na por Dê. Diziam-me:
- Hoje vamos à casa de Dê.
Lembro-me de grandes descampados abertos ao sol, com lama esturricada, dividida em veios fundos pelo trânsito das carroças. A casa, não sei como era, mas para mim tinha sempre uma alegria em reserva: brincar no quintal. À sombras das mangueiras, desalinhavam-se canteiros cobertos de uma vegetação escura.
- São murangos – diziam.
À medida que o sol ia queimando mais, eu procurava, procurava – nunca achei nenhum morango, mas que me importava, o encanto da procura me bastava.
Lúcio Cardoso, in Diários

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