“A
verdade é que não se manda com os janízaros. Assim, dizia Talleyrand a
Napoleão: ‘Com as baionetas, Sire, pode-se fazer tudo, menos uma coisa:
sentar-se sobre elas’. E mandar não é atitude de arrebatar o poder, mas
tranquilo exercício dele. Em suma, mandar é sentar-se. Trono, cadeira curul,
banco azul, poltrona ministerial, sede. Contra o que uma ótica inocente e
folhetinesca supõe, o mandar não é tanto questão de punhos como de nádegas. O
Estado é, em definitivo, o estado da opinião: uma situação de equilíbrio, de
estática.
O
que sucede é que às vezes a opinião pública não existe. Uma sociedade dividida
em grupos discrepantes, cuja força de opinião fica reciprocamente anulada, não
dá lugar a que se constitua um mando. E como a Natureza tem horror ao vácuo,
esse oco que deixa a força ausente de opinião pública enche-se com a força
bruta. Em suma, pois, avança esta como substituta daquela.
Por isso, se se quer expressar com toda a
precisão a lei da opinião pública como lei da gravitação histórica, convém ter
em conta esses casos de ausência, e então chega-se a uma fórmula que é o
conhecido, venerável e verídico lugar comum: não se pode mandar contrariando a
opinião pública.”
Ortega
y Gasset, in A Rebelião das Massas
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