Era
uma vez Três Porquinhos e um Lobo Bruto. Os Três Porquinhos eram pessoas de
muito boa família, e ambos tinham herdado dos pais, donos do Porcão, um talento
deste tamanho. Pedro, o mais velho, pintava que era uma maravilha - um
verdadeiro Beethoven. Joaquim, o do meio, era um espanto das contas de somar e
multiplicar, até indo à feira fazer compras sozinho. E Ananás, o menor, esse
botava os outros dois no bolso - e isso não é maneira de dizer. Ananás era um
mágico admirável.
Mas
o negócio é que - não é assim mesmo, sempre? - Pedro não queria pintar, gostava
era de cozinhar, e todo dia estragava pelo menos um quilo de macarrão e duas
dúzias de ovos tentando fazer uma bacalhoada.
Joaquim
vivia perseguindo meretrizes e travestis, porque achava matemática chato, era
doido por imoralidade aplicada.
E
Ananás detestava as mágicas que fazia tão bem - queria era descobrir a
epistemologia da realidade cotidiana.
Daí
que um Lobo Bruto, que ia passando um dia, comeu os três e nem percebeu o
talento que degustava, nem as incoerências que transitam pela alma cultivada.
MORAL: É INÚTIL ATIRAR PÉROLAS AOS LOBOS.
Millôr
Fernandes, in Fábulas fabulosas
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