“Quando estamos febris, tudo quanto
provamos nos parece amargo e desagradável, mas, ao vermos outrem saborear as
mesmas iguarias sem fazer cara feia, não mais culpamos a comida ou a bebida:
culpamo-nos a nós mesmos e ao nosso destempero. De modo similar, desistimos de
incriminar as circunstâncias e de com elas nos preocupar quando vemos outrem
aceitando as mesmas circunstâncias plácida e alegremente. Quando as coisas não
correm na medida dos nossos desejos, muito contribuirá para o nosso
contentamento pensarmos nas coisas agradáveis e encantadoras que nos pertencem;
na mistura, o melhor eclipsa o pior. Quando os nossos olhos são ofuscados pela
claridade excessiva, nós acalmamo-nos olhando para a verde relva e para as
flores; todavia, mantemos a mente absorta com o que é penoso e forçamos-na a
remoer sem trégua os vexames, desviando-a violentamente de pensamentos mais
reconfortantes.”
Plutarco, in Do
Contentamento
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