Eliane
Brum lança "A menina quebrada" na Livraria Cultura
Desde 2009,
quando iniciou uma coluna semanal no site da revista Época, a jornalista
Eliane Brum viu seus textos serem comentados, compartilhados e retuitados pela
internet, espalhando-se nas redes sociais. “O leitor tem a possibilidade de
continuar escrevendo a partir de sua própria visão”, diz, num tom de voz baixo
e calmo, como lhe parece ser característico. Na última terça-feira, 18 de
junho, ela lançou seu quinto livro, A menina quebrada (Arquipélago
Editorial), um compilado dos textos publicados na coluna entre junho de
2009 e janeiro de 2013.
A morte de Aaron
Swartz, a busca pela escrivaninha perfeita, a situação dos Guarani-Kaiowá, a
afilhada que se assustou com a menina de perna engessada. Mundo real e universo
particular se encontram nas páginas do livro, que, segundo Eliane, pretende ser
“um pequeno retrato histórico do tempo em que estamos vivendo” – ainda que, por
vezes, ela possa tratar de sua realidade interna.
Vencedora de mais
de 40 prêmios jornalísticos nacionais e internacionais, Eliane Brum conversou
com o site da revista CULT a respeito da nova obra.
Você
afirma ser uma repórter de desacontecimentos. O que te atrai na vida comum, no cotidiano das pessoas
que não saem no jornal?
Acho que cada um de nós,
que é um contador de histórias, parte de uma pergunta. Eu tenho uma grande
pergunta que me move: como cada um dá sentido para sua vida? A vida é caos, a
vida não tem sentido nenhum, e o que eu acho fascinante é como cada um cria
sentido para a sua vida, em geral com muito pouco. É isso que me move.
Acreditar que a vida comum é banal ou desinteressante, é uma cegueira, nos faz
cegos tanto com relação à vida do outro, como à nossa própria vida. O trabalho
do jornalista é resistir a esse olhar. É olhar essas camadas de banalidade e
enxergar mais do que isso. O ato de determinar o que é pauta e o que é notícia,
não é algo que está dado – é um embate constante no campo da história. Quando
você diz que isso é notícia e aquilo não é, que isso é importante e aquilo não
é, deixa de fora a vida da maior parte dos homens e das mulheres que constroem
o país e a sua comunidade cotidianamente. É dizer que a
vida deles não é importante. Construir a história e não ser contado na história
tem um efeito devastador sobre a vida humana. Isso é o que a gente não pode
fazer. Por isso eu faço uma escolha, que é uma escolha também política, de
contar a extraordinária vida comum, de mostrar o quanto as pequenas coisas – o
que eu chamo de desacontecimentos, até como uma provocação – são fascinantes. A
vida é construída por esses fragmentos.
Você
começou a carreira em 1988, quando a internet ainda não existia nem
como um sonho. De lá pra cá, o que mudou? De que forma a
internet ajuda e de que forma ela atrapalha o trabalho do jornalista?
Ela só ajuda. A
reportagem não muda com a internet, ela continua sendo feita da mesma maneira,
que é na rua – e hoje, tanto na rua virtual como na rua real. Você tem que
estar nesses dois lugares que, em algum momento, viram um só. A reportagem
continua sendo feita na rua e a internet dá outras possibilidades. Se pensarmos
nesse momento que estamos vivendo, dessas grandes manifestações, esses
protestos, temos uma mudança muito fascinante, muito rica também para a
reportagem. Temos muito mais narradores contando aquilo que você não vê. As
pessoas que estavam no protesto de quinta-feira, 13 de junho, em São Paulo,
estavam narrando suas experiências. Só que o nosso trabalho de repórter não
acaba na narração – que é muito rica pra nos ajudar a entender esse momento que
vamos contar –, mas é um ponto de partida. Nela, tem o governador fazendo uma
narrativa, várias pessoas diferentes partindo de lugares diferentes, de
experiências, de mundos e de anseios diferentes, fazendo as suas narrativas.
Isso é mais um instrumento pra ampliar o nosso mundo. A função do jornalista é
documentar a história em movimento e é com essa responsabilidade que fazemos
nosso trabalho. Nesse sentido, essa ampliação de narradores que a internet
permite através de várias maneiras, essa horizontalização, é muito rica pra que
a história que a gente está contando seja cada vez mais cheia de nuances e de
contraditórios. A internet nos deu ainda mais possibilidades, torna possível
que façamos uma reportagem muito melhor. Eu sou muito otimista com relação a
isso, estamos vivendo um momento muito inquietante. Acho que nós todos
estamos perdidos – e estar perdido não é ruim, é uma coisa boa. O que vai se
viver daqui pra frente é cada vez mais fascinante. Sou encantada com a vida. E
conto a vida justamente porque sou encantada por ela.
E por que você escreve? É uma necessidade ou uma escolha?
As
duas coisas. Escrevo para viver. Eu não acho que seja possível, para mim, viver
sem a palavra escrita. Escrever não é o que eu faço, é o que eu sou. Eu não
conseguiria dar conta do mundo sem expressá-lo pela palavra. É uma necessidade
nessa medida, de que eu preciso escrever, é uma expressão do mundo, é o que eu
sou; e é uma escolha porque eu decido sobre o que escrevo. Mas acho que se não
existisse a palavra escrita, eu já teria morrido.
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completa aqui.
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