Pertencer à
geração atual de cantoras brasileiras não é mole, não. A concorrência de ótimas
vozes é altíssima, e praticamente todas as intérpretes disputam os mesmos
comparsas na hora de entrar em estúdio. Qual delas não sonha com um disco
produzido por Kassin? Ou com Fernando Catatau na guitarra e Curumin na bateria?
Antes de registrar seu terceiro CD, a paulista Andreia Dias se sentia sufocada
pela competição. A saída foi dar um rolê. Pelos Trópicos tomou forma na estrada. A cantora realizou
gravações em dez capitais do país e, em cada cidade, se fez acompanhar por
artistas locais, na maioria das vezes ignorados fora de sua região.
É o caso do Talma&Gadelha,
criativo grupo pop de Natal. Andreia passou por lá, se juntou à turma e
registrou Terra do Nunca. A canção,
com menos de dois minutos e meio, remete ao melhor de Pato Fu e Rita Lee, além
de exibir boas intervenções da vocalista Simona Talma. Em Fortaleza, Andreia se
aliou a Vitoriano, cantor e compositor que sabe lidar com o reggae, o brega e a
herança dos também cearenses Belchior, Fagner e Ednardo. O resultado do
encontro é Bandoleiro, que menciona
um coração “cinicamente largado, perdido e demente”. O passeio da cantora ainda
rendeu um ou outro romance, quase num clima de “despedida de solteira”. Foram
seus últimos momentos como trintona: ela completou 40 anos no começo deste mês.
Patota fora do eixo
Andreia
compartilha algumas faixas de Pelos
Trópicos com artistas mais estabelecidos na cena alternativa. Vide a
marchinha roqueira Xuxu Beleza,
executada pela banda carioca Do Amor (dois de seus integrantes tocam com
Caetano Veloso e um terceiro está ligado ao Los Hermanos). O badalado paraense
Felipe Cordeiro figura em Beijin na
Nuca, totalmente trabalhada nos ritmos dançantes que dão fama a Belém.
Outro ponto alto é a faixa-título, parceria com o Baiana System, de Salvador.
Esse grupo tem ajudado na revitalização da guitarra baiana, instrumento que
surgiu com os trios elétricos.
“Viajando,
cantando e compondo” (para usar um verso de Vai e Volta, dobradinha com o Cabruêra, de João Pessoa), Andreia
concebeu um álbum que não só a afasta das escolhas mais óbvias e batidas como
também joga luz numa talentosa patota fora do eixo. Ela já anda falando até num
volume dois, que abarcaria representantes de outras capitais. Parece ter
gostado do papel de “bandeirante do bem”, ao recolher as joias de um Brasil que
merece mais holofote.
José Flávio Júnior, in bravoonline.abril.com.br, edição 187,
março 2013
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