sábado, 20 de abril de 2013

Andreia Dias - Bandeirante do bem

A cantora paulista Andreia Dias percorre dez capitais brasileiras à caça de músicos talentosos e volta­ com um disco muito original, que abre espaço para a marchinha, o brega e a guitarra baiana

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Pertencer à geração atual de cantoras brasileiras não é mole, não. A concorrência de ótimas vozes é altíssima, e praticamente todas as intérpretes disputam os mesmos comparsas na hora de entrar em estúdio. Qual delas não sonha com um disco produzido por Kassin? Ou com Fernando Catatau na guitarra e Curumin na bateria? Antes de registrar seu terceiro CD, a paulista Andreia Dias se sentia sufocada pela competição. A saída foi dar um rolê. Pelos Trópicos tomou forma na estrada. A cantora realizou gravações em dez capitais do país e, em cada cidade, se fez acompanhar por artistas locais, na maioria das vezes ignorados fora de sua região.
É o caso do Talma&Gadelha, criativo grupo pop de Natal. Andreia passou por lá, se juntou à turma e registrou Terra do Nunca. A canção, com menos de dois minutos e meio, remete ao melhor de Pato Fu e Rita Lee, além de exibir boas intervenções da vocalista Simona Talma. Em Fortaleza, Andreia se aliou a Vitoriano, cantor e compositor que sabe lidar com o reggae, o brega e a herança dos também cearenses Belchior, Fagner e Ednardo. O resultado do encontro é Bandoleiro, que menciona um coração “cinicamente largado, perdido e demente”. O passeio da cantora ainda rendeu um ou outro romance, quase num clima de “despedida de solteira”. Foram seus últimos momentos como trintona: ela completou 40 anos no começo deste mês.

Patota fora do eixo

Andreia compartilha algumas faixas de Pelos Trópicos com artistas mais estabelecidos na cena alternativa. Vide a marchinha roqueira Xuxu Beleza, executada pela banda carioca Do Amor (dois de seus integrantes tocam com Caetano Veloso e um terceiro está ligado ao Los Hermanos). O badalado paraense Felipe Cordeiro figura em Beijin na Nuca, totalmente trabalhada nos ritmos dançantes que dão fama a Belém. Outro ponto alto é a faixa-título, parceria com o Baiana System, de Salvador. Esse grupo tem ajudado na revitalização da guitarra baiana, instrumento que surgiu com os trios elétricos.
“Viajando, cantando e compondo” (para usar um verso de Vai e Volta, dobradinha com o Cabruêra, de João Pessoa), Andreia concebeu um álbum que não só a afasta das escolhas mais óbvias e batidas como também joga luz numa talentosa patota fora do eixo. Ela já anda falando até num volume dois, que abarcaria representantes de outras capitais. Parece ter gostado do papel de “bandeirante do bem”, ao recolher as joias de um Brasil que merece mais holofote.
José Flávio Júnior, in bravoonline.abril.com.br, edição 187, março 2013

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