domingo, 17 de julho de 2011

Tristão

             Em pé, ao sol e ao vento do sertão, 
       ele não se decompôs.
                     Pedro Nava (Baú de Ossos)

As palavras no alforje. E o rosário, 
a escorrer das penas e dos dias. 
O azul da barba lembra uma paisagem 
onde campeiam cabras. E ramagens 
desatam-se em sombras nas janelas. 
A morrinha dos bichos. O mormaço, 
trazendo o desespero, em vez de março: 
um luto atravancando as taramelas. 
A sela desapeada. E na garupa
do cavalo, a sentença das esporas. 
Pendentes dos estribos, estão as horas, 
relampejos de facas. E o sono da jurema.
O braço descarnado, o giz dos dentes, 
e o olho além do corpo do poema. 
No chão do meu degredo, sempre chão, 
sete frases do ofício e um bordão.

Everardo Norões, poeta cearense de Crato

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