Huaina
Cápac
Enfrentando
o sol que aparece, atira-se na terra e humilha a face.
Recolhe
com as mãos os primeiros raios e leva-os à boca e bebe a luz.
Depois, ergue-se e fica em pé. Olha fixo o sol, sem pestanejar.
Atrás
de Huaina Cápac, suas muitas mulheres aguardam com a cabeça baixa.
Esperam também, em silêncio, os muitos príncipes. O Inca está
olhando para o sol, olha-o de igual para igual, e um murmúrio de
escândalo cresce entre os sacerdotes.
Passaram-se
muitos anos desde o dia em que Huaina Cápac, filho do pai
resplandecente, subiu ao trono com o título de poderoso e jovem
chefe rico de virtudes. Ele estendeu seu império muito além das
fronteiras de seus antepassados. Faminto de poder, descobridor,
conquistador, Huaina Cápac conduziu seus exércitos da selva
amazônica até as alturas de Quito, e de Chaco até a costa do
Chile. A golpes de machado e voo de flechas, fez-se dono de novas
montanhas e planícies e areais. Não há quem não sonhe com ele nem
existe quem não o tema neste reino que é, agora, maior que a
Europa. De Huaina Cápac dependem os pastos, a água e as pessoas.
Por causa de sua vontade se moveram a cordilheira e as pessoas. Neste
império que não conhece a roda, ele mandou construir edifícios, em
Quito, com pedras de Cuzco, para que no futuro se entenda sua
grandeza e sua palavra seja acreditada pelos homens.
O
Inca está olhando fixo para o sol. Não por desafio, como temem os
sacerdotes, mas por piedade. Huaina Cápac sente pena do sol, porque
sendo o sol seu pai e pai de todos os incas desde o antigamente das
idades, não tem direito à fadiga nem ao aborrecimento. O sol jamais
descansa, jamais brinca, jamais esquece. Não pode faltar ao dever de
cada dia e através do céu percorre, hoje, o caminho de ontem e de
amanhã.
Enquanto
contempla o sol, Huaina Cápac decide: “Breve, morrerei”.
Eduardo Galeano, in Os Nascimentos
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