Fomos
ao outro set, na Rua Alvarado, uma semana depois, numa segunda-feira.
Estacionamos algumas quadras distante e andamos até lá. Quando nos
aproximávamos, vimos que havia alguma atividade em torno do Rolls
Royce de Jack Bledsoe.
– Estão
fazendo algumas tomadas – disse Sarah.
Lá
estava Jack Bledsoe de pé sobre o capô do Rolls, tendo consigo dois
de seus colegas motoqueiros. Os flashes espocavam, os motoqueiros
riam, Bledsoe sorria, e passevam sobre o capô com suas botas
pesadas, mudando de posição para outras fotos.
– Não
creio que isso seja muito bom pra capota – disse Sara.
Aí
eu vi Jon Pinchot. Ele se aproximava de nós. Tinha um sorriso
cansado no rosto.
– Que
diabos está acontecendo aqui, Jon?
– Precisamos
manter as crianças felizes.
Ouviu-se
um berro de um dos motoqueiros. Todos saltaram da capota para o chão.
As fotos haviam acabado. Eles se afastaram, rindo e conversando.
– Veja
aqueles amassos na capota – disse Jon.
– Por
toda parte. Será que eles não viram?
– Não
querem nem saber. Vivem, sem saber.
– Pobre
carro lindo – disse Sarah.
(Depois,
ia custar 6.600 dólares tirar os amassos da capota e repintá-la.)
– Você
conversou com o advogado na festa, não foi, Hank?
– Foi.
– Que
foi que ele disse?
– Disse
que nossos cheques estavam no correio.
– É
verdade. Eu recebi e depositei em minha conta.
Abriu
a carteira. Tirou-os. Eram dois. Um carimbo estampado na frente de
cada um dizia: Insuficiência de Fundos.
– São
de um banco da Holanda. Borracha.
– Eu
não acredito – eu disse.
– Por
quê? – perguntou Sarah. – Por que a Firepower está fazendo
isso?
– Não
sei. Eu dei uma prensa em Friedman hoje de manhã. Ele afirmou que os
cheques eram bons, que o contador tinha depositado fundos na conta
errada, e que assim que os fundos fossem transferidos os cheques
seriam bons. Eu disse a ele: “Estes são de um banco holandês.
Nenhum banco daqui tocará neles com esse carimbo. Você deve mandar
fazer novos cheques”. Friedman disse: “Não, não posso fazer
isto sozinho. Preciso esperar que meu contador acerte tudo.”
– Eu
não acredito – eu disse.
– Eu
disse a Friedman: “Tudo bem, chame seu contador aqui”. E ele
disse: “Meu contador está no leito de morte da mãe dele em
Chicago. Ela está morrendo de câncer”. E se recostou na poltrona
e olhou pela janela.
– “Sr.
Friedman”, eu disse, “isso não é direito.”
– E
que disse aquele monstro? – perguntou Sarah.
– Ele
me olhou com aqueles inocentes olhos azuis e disse: “Lembre, rapaz,
ninguém mais nesta cidade quis esse filme. Cuspiram nele. Riram
dele. Nós aceitamos ele, lembre-se disso. Trabalhe conosco,
queridinho, e vai ficar numa boa.”
– E
que foi que você fez?
– Sarah,
Hank, agora venham comigo – disse Jon. – Estamos preparando a
cena da banheira. Lembra?
– Sim,
é claro. Vai continuar, sem receber?
Encaminhamo-nos
para o set.
– A
cena da banheira vai ser uma bela cena. Gosto dela – disse Jon.
– É
– eu disse –, tudo bem.
Jon
continuou sua história.
– De
qualquer modo, depois de falar com Friedman, eu contornei a quadra.
Dei duas voltas na quadra olhando aquele prédio verde da Firepower.
E aí, finalmente, fiquei cheio. Voltei ao escritório de Friedman...
Perdão, Hank, fique atrás de mim enquanto me sento na cadeira...
– Hum?
Um
fotógrafo esperava, parado. Jon sentou-se na cadeira.
– Está
atrás de mim?
– Estou.
– Agora
dê aquele seu sorriso falso.
Eu
dei.
O
flash espocou.
– Outra
– disse Jon.
O
flash tornou a espocar.
– Ótimo.
É isso aí.
Jon
levantou-se.
– Me
acompanhe. Estamos rodando lá em cima...
Começamos
a subir a escada.
– Friedman
e Fischman fizeram uma foto exatamente igual a essa na semana
passada, Friedman na cadeira, Fischman de pé atrás, os dois
sorrindo. A foto apareceu num anúncio de página inteira no Variety.
E embaixo as palavras: A FIREPOWER VENCERÁ!
– Foi?
– Espere.
Pare aí. Me deixe contar o resto antes de entrarmos no set.
– Tudo
bem.
Ficamos
ali parados no alto da escada. A filmagem seria no corredor.
– Eu
voltei ao escritório dele. Disse a Friedman que tinha visto o
anúncio no Variety. Disse que você e eu íamos pôr um anúncio na
próxima semana. Você e eu na mesma pose. E embaixo sairia também
uma reprodução dos dois cheques devolvidos, com a legenda: A
FIREPOWER VENCERÁ, MAS COMO? Disse que se a gente não recebesse
dois cheques visados dentro de 48 horas, esse anúncio ia aparecer.
Um
homem extremamente alto estava parado no fim do corredor. Era o
assistente de direção de Jon, Marsh Edwards.
– Estamos
prontos pra rodar, Jon. Tudo pronto.
– Espere...
Já vou lá...
– Não
pode nos contar depois? – perguntou Sarah.
– Não,
quero concluir. Aí eu disse a Friedman: “Por outro lado, se a
gente receber os cheques visados dentro de 48 horas, ainda podemos
publicar o anúncio, sem os cheques holandeses, e a legenda dirá:
FIREPOWER, NÓS A AJUDAREMOS A VENCER!
– Que
foi que ele disse? – perguntei.
– Não
disse nada por um tempo. Depois, disse: “Tudo bem, vocês vão
receber seus cheques”.
– Mas
aquelas fotos que você acaba de fazer mostram nós dois com grandes
sorrisos falsos. Não precisamos de fotos pro anúncio de FIREPOWER,
NÓS A AJUDAREMOS A VENCER!?
– Se
a gente receber os cheques – disse Jon –, esquece o anúncio. Um
anúncio desses custa dois mil dólares.
Com
isso, percorremos o corredor, para filmar a cena da banheira.
Charles Bukowski, in Hollywood
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